Feitos de Sol
Autora: Vinícius Grossos
Editora: Faro Editorial
Páginas: 224
Resenha escrita por: Leonardo Santos
Faça sua lista de filmes para alugar no fim de semana, prepare as músicas para gravar na sua mixtape e faça uma viagem no tempo diretamente para 1999. Feitos de Sol é nostálgico, recheado de cultura pop, e tem aquele sabor de primeiro amor que a gente sente, independentemente da época. Final da década de 90... Cícero é um nerd de quinze anos, fã de quadrinhos e que acredita que o mundo vai acabar na virada de 1999, por causa do bug do milênio — quando os computadores de todo o planeta iriam se descontrolar por não terem sido programados para entender a mudança das datas. Hoje pode parecer loucura, mas muita gente acreditou nesse risco. E ele não estava sozinho. Na busca pela última edição da revista do seu herói favorito, ele conhece Vicente, um garoto de família religiosa com quem ele logo se identifica. Vicente também acredita no fim do mundo, mas por outro motivo: o Apocalipse. Com suas diferenças, crenças e afinidades, Cícero e Vicente vão juntos desbravar um mundo além do que conheciam e, no caminho, descobrir mais sobre si mesmos. Dois jovens com histórias de vida cheias de adversidades e reviravoltas, numa época em que tudo era ainda mais complicado... É quando aparece, sem avisar, o amor...
Fala galera do Porão Literário, tudo certo? Hoje a resenha é especial por se tratar de um livro que eu estava esperando e criando grande expectativa desde quando foi anunciado pela Faro Editorial, isso porque se trata do novo livro de Vinícius Grossos, titulado Feitos de Sol, o romance segue a linha de young adult já consolidada pelo autor em suas obras anteriores, enfim, vamos a resenha?
Ambientado no final dos anos 90, Cícero é um jovem de 15 anos que gosta de quadrinhos e música, o garoto se considera meio recluso e por isso não possui uma grande quantidade de amigos, na verdade possuí apenas Karol, sua amiga cuja qual mantém uma "amizade colorida". Cícero mantém em segredo seu temor pelo bug do milênio, teoria da qual dizia que a virada do milênio traria o fim dos tempos, com todos os computadores bugando e todo o apocalipse se originando! Cícero tenta não pensar muito nisso e foca em conseguir o único volume do seu quadrinho preferido, Under Hero.
No entanto se decepciona quando, ao chegar na única loja de quadrinhos da cidade, encontra-a fechada! Desesperado por talvez nunca saber o final da história, o garoto outra figura ali que parece tão frustrado quanto ele. Vicente também é fã de quadrinhos e não demora muito para os dois criarem uma amizade. Vindo de uma família extremamente religiosa, o menino não é o que pode se esperar de um filho de pastor, e ao passar cada vez mais com Cícero é perceptível que os sentimentos vão se transformando em algo novo, uma paixão avassaladora toma o coração dos dois jovens, que estão prestes a descobrir porque o amo pode irradia-los mais do que qualquer estrela.
Os livros de Vinícius são extremamente prazerosos de se ler, tive uma ótima experiência com seus trabalhos anteriores e não é por menos minha ansiedade pelo Feitos de Sol, ainda mais por saber que a trama se passaria nos anos 90! Gosto dos elementos da época e achei uma boa sacada em jogar a história para essa época justamente para aproveitar todas as referências que fizeram parte de nossa infância também (como assistir MTV, alugar filmes na locadora e por aí vai).
Dado o plano de fundo, Feitos de Sol se desenrola de uma forma leve enquanto vamos conhecendo mais sobre Cícero e Vicente, que são personagens bem apaixonantes e que realmente tem uma química quando estão juntos, gostei da forma como os dois personagens se conectavam. Entre os dois, achei que Vicente possuía uma história bem mais interessante justamente por ser filho de um pastor extremamente conservador e ignorante, ir conhecendo o personagem conforme as páginas vão avançando é o maior potencial do livro, acredite. Por um tempo até achei que se Vicente fosse o protagonista do livro a história seria muito mais intensa, mas conforme ia chegando nas páginas finais consegui entender o porquê de ser Cícero quem narra os acontecimentos.
Vinícius sempre soube construir ótimos personagens secundários que muitas vezes ofuscam seus protagonistas, em Feitos de Sol não poderia ser diferente! Karol, a amiga de Cícero, é uma personagem incrível! Com certeza uma mulher a frente do seu tempo que preza o amor pela sua forma pura, extremamente engraçada e ótima conselheira, me atraí pela personagem logo depois de suas primeiras falas! Outras personagens que me conquistaram foram a avó de Vicente, um espírito livre que compartilha dos ideais hippies; e a mãe de Cícero.
O livro não se mantém só no tom de romance adolescente, ele também explora questões mais pertinentes como o preconceito e a ignorância que o radicalismo e o senso comum leva, assim como podemos nos deixar influenciar pela falta de informação. Uma coisa me surpreendeu foi como ambos os protagonistas lidam com a sua sexualidade, achei que Vicente por vir de uma família mais conservadora demonstraria ideias mais fechadas, mas neste caso fui surpreendido ao ver que Vicente é o que tem ideias mais desconstruídas entre os dois.
É perceptível o amadurecimento do autor mediante a suas obras anteriores, pois conforme a história vai avançando vamos conhecendo mais sobre os personagens (principalmente Vicente) e seus problemas, a forma como Vinícius lida com isso realmente mostra um amadurecimento narrativo, o que nos leva a um final bem surpreendente.