16 de março de 2020

RESENHA: OS SEGREDOS QUE GUARDAMOS



OS SEGREDOS QUE GUARDAMOS
Autora: Lara Prescott

Editora: Intrínseca 

Páginas
: 368 páginas
Resenha escrita por:
 Leonardo Santos
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Inspirado em uma missão real da CIA durante a Guerra Fria, Os segredos que guardamos mostra, de maneira romanceada, como a Agência de Inteligência americana apostou em Doutor Jivago, uma das obras-primas do século XX, para mostrar aos soviéticos o poder de mudança da literatura.
O plano era simples: imprimir no exterior Doutor Jivago em russo e contrabandear exemplares da obra que teve sua publicação proibida na União Soviética por ir contra a ideologia do Estado. Para tanto, a experiente e glamorosa espiã americana Sally Forrester deve treinar a novata Irina, uma simples datilógrafa da Agência, a fim de infiltrar o texto no país natal de seu autor, Boris Pasternak, vencedor do Prêmio Nobel com esta obra, porém obrigado por seu governo a rejeitá-lo.
Apesar de todo o potencial revolucionário, Doutor Jivago é também uma brilhante história de amor. A inspiração por trás de Lara, a icônica heroína da trama, é Olga Ivinskaia, musa de Pasternak. Os dois mantiveram um caso por décadas, uma relação intensa que sobreviveu à passagem do tempo, às ameaças de um regime autoritário e até aos anos de Olga em um gulag. Assim, mulheres de ambos os lados da Cortina de Ferro protagonizam essa obra que mostra que, embora a história seja escrita pelos vencedores, é nos bastidores que o destino do mundo é forjado. Amantes, espiãs, datilógrafas. Fortes e corajosas, essas personagens ganham vida nessas páginas e são exemplos de que determinados segredos não devem ser guardados.
“Dedos rápidos guardam segredos”

Fala galera do Porão Literário, tudo certo? Estamos em março e sei que ainda é meio cedo pra começar a definir as melhores leituras de 2020 (afinal temos muitos meses neste ano ainda), mas já posso dizer com convicção de que o livro do qual eu vou falar um pouco a seguir, com certeza entrará na lista de melhores leituras deste ano. Ficou curioso, pois bem, bora conferir? 



Os Segredos que Guardamos é um daqueles livros que falam sobre o poder transformador que a literatura resguarda em suas páginas. Sinceramente eu amo livros que usam da metalinguagem para evidenciar como a leitura nos faz refletir e nos formar como seres críticos. Pois bem, se você ainda não ficou pelo menos curioso para ler este livro incrível, posso dizer que sua história brinca também com elementos de espionagem e tem forte base em acontecimentos reais da década de 1950. 

A história é dividida em dois núcleos, no oriente conhecemos Olga Ivinskaia, uma mulher forte que, por ter um relacionamento com um dos maiores escritores vivos da Rússia, Boris Pesternak. Olga é presa para revelar informações de um trabalho que Boris está produzindo, que leva o nome de Doutor Jivago. Mesmo sem ter sido lançada, a obra já causava muita polêmica por ter ideias consideradas anti-soviéticas. Tal incitação era considerada crime punível com a morte no regime Stalinista, e mesmo Doutor Jivago não tendo sindo publicado na Rússia, editores de outros países conseguiram ter acesso a obra tão polêmica.
“Ele começou Doutor Jivago quase dez anos antes, e, embora tenha feito muito progresso, deseja poder voltar aos dias em que o romance começou a surgir, quando a história ainda jorrava de uma piscina inexplorada dentro de si. Era como encontrar um novo amor – a obsessão, a paixão, não pensar em mais nada.”
Enquanto no ocidente, temos como principal cenário a Agência de Inteligência Americana, ali, uma nova datilógrafa se integra a equipe de mulheres responsáveis pela papelada confidencial da guerra fria que começa a se instaurar. Por conta de seus talentos e hereditariedade russa, Irina também é contratada para ser uma espiã pela agência. Sendo treinada para uma missão muito importante, infiltrar o romance Doutor Jivago no país soviético, visto que ele tem um material que pode causar uma revolução contra o regime que rege o país. 
“Eles nos chamavam de garotas, mas não éramos garotas. Chegamos à Agência após ter estudado em Radcliffe, Vassar, Smith. Éramos as primeiras filhas de nossas famílias a conquistar diplomas. Algumas de nós falávamos mandarim. Algumas sabiam pilotar aviões. Algumas manipulavam um Colt 1873 melhor do que John Wayne. Mas tudo o que nos perguntavam ao sermos entrevistadas foi: “Você sabe datilografar?”

Pelo forte conteúdo histórico presente no livro, foi bem difícil fazer uma sinopse desse livro incrível  (espero que não tenha ficado confuso), mas gente, sério, que livro! Lara Prescott consegue criar duas narrativas intensas e repletas de fatores históricos com mulheres extremamente fortes e complexas de ambos os lados. 

Creio que o fato do livro ter sido escrito por uma mulher foi fundamental na forma como a sua perspectiva cria toda a visceralidade da obra, principalmente pelo machismo evidenciado e também pela violência, aqui presentes pela misoginia e homofobia. É agoniante acompanhar a trajetória de Olga, assim como é apaixonante perceber o quanto as palavras têm o poder de mudar o pensamento de uma sociedade tomada por uma cortina de fumaça. 

“Todas datilografávamos, mas algumas de nós faziam mais do que isso. Não dizíamos uma só palavra sobre o trabalho que fazíamos depois de cobrir nossas máquinas no fim de cada dia. Ao contrário de alguns homens, sabíamos guardar segredo."
É difícil encontrarmos um livro que fala tão bem sobre tantos assuntos de uma forma que não fique superficial, Prescott tem um êxito impressionante ao prôpor tantos assuntos de uma forma que um complemente o outro, dando coerência a narrativa. É importante frisar que por mais que o livro traga figuras reais (como o autor de Doutor Jivago, por exemplo), o livro se trata de uma ficção, sendo assim muito foi romantizado para nossa leitura fluir melhor, entretanto creio que a autora tenha conseguido obter seu maior sucesso: atiçar os leitores de sua obra e pesquisarem e lerem Doutor Jivago por conta própria. 

Outro elemento bem importante: Outras obras (de autores americanos e ingleses) foram enviados “disfarçados” com outras capas para a União Soviética na tentativa de uma causar uma revolução. O livro aborda muito bem isso, mesmo dando um foco maior na obra de Boris. Espero que essa resenha tenha atiçado você da mesma forma que Lara Prescott me atiçou a conhecer ainda mais sobre este vasto mundo que a literatura nos oferece. 
“Sabia que o que eu queria de verdade era impossível. Mas queria mesmo assim. Queria a emoção, o lar, a aventura, o esperado, o insperado. Queria cada contradição, cada oposto. Queria tudo de uma vez.” 


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Leonardo Santos



Olá leitories! Meu nome é Leonardo Santos, tenho 28 anos, sou de São Paulo mas atualmente estou em Guarulhos cursando Letras! Minha paixão pela leitura começou desde muito cedo, e é um prazer compartilhar minhas leituras e experiência com vocês!

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