Fala galera do Porão Literário, tudo certo? Hoje minha resenha é do livro Aristóteles e Dante mergulham nas águas do mundo lançado pela editora Seguinte. O livro é de autoria de Benjamin Alire Sáenz e a resenha foi escrita por Leonardo Santos.
Tomando o exato ponto onde o primeiro volume nos largou, Aristóteles e Dante mergulham nas águas do mundo traz de volta nossos dois protagonistas um pouco mais maduros e muito mais apaixonados. Tudo o que tinha pra ser dito já foi, Ari ama Dante e Dante ama Ari, mas como prosseguir a partir disso? A perspectiva parece bem positiva, mas a vida pode trazer outros pontos de vistas mais... realistas.
Afinal o último ano do ensino médio se aproxima, ambos sabem que após o término do período escolar, decisões precisarão ser tomadas - e é bem provável que ela altere toda a rotina deles -, além disso, Ari sofre a dor de uma perda. É devastador, triste e naquele momento ele precisa de todo o apoio de Dante.
Como se não fosse o suficiente, Ari e Dante vivem em uma sociedade conversadora, em tempos onde ser homossexual é um pecado terrível, onde demonstrar qualquer afeto por uma pessoa do mesmo sexo é uma abominação. Mas como eles podem lutar contra um sentimento tão puro como o amor, como o desejo? O ambiente é de incertezas, e nele os dois precisarão se ancorar um no outro para não naufragar nas tempestuosas águas do mundo.
Já foi retratado nos livros, nas séries e nos filmes... Mas é sempre bom ressaltar que a sociedade sempre foi cruel com a comunidade LGBTQIA+, e por mais que continue sendo, estamos tomando cada vez mais espaço e conquistando nossos direitos. No final dos anos de 1980, no entanto, o cenário era bem mais complicado. O surto da AIDS explodiu no mundo e muitos viram na doença uma justificativa (ilógica, obviamente) para fundamentar seu preconceito.
É com todos esses tristes apesares que Sáenz compõe sua escrita, permeada por filosofia e poesia. O autor é sim muito problemático, o final do primeiro livro consta um acontecimento de pura transfobia dentro da narrativa. A editora Seguinte até publicou uma nota dizendo que os acontecimentos narrados nessa história se passam na década de 1980 e, portanto, as normais sociais são vigentes a época. Bom, isso não é suficiente, até porque as declarações do autor a respeito desta transfobia são difusos ou vagos, mas peguei o segundo volume da série para ler na esperança de que sua escrita tenha sido mais justa.
E nesse ponto, o autor parece ter corrigido algumas de seus erros (não que isso os amenize, afinal o primeiro livro ainda tá aí), mas com relação a pronomes e contexto, a obra parece ter evoluído nesse ponto. Já de resto, o autor traz reflexões bem importantes a respeito do amadurecimento e de toda a política que envolveu o surto da AIDS, principalmente com relação ao dar de ombros negacionista por parte do governo.
O racismo também é abordado de forma ímpar pelo autor, gostei muito da forma como ele amplia alguns debates do primeiro livro e ainda faz com que nos apaixonemos ainda mais pelos protagonistas dessa história.
De resto, espero que quem leia essa duologia consiga retirar dela reflexão a respeito das problemáticas e também de alguns outros pontos tratados pelo autor, de resto, os dois personagens vão morar no meu coração - por mais que eu tenha desencantado da história.