RAINHAS DA NOITE
Autor(a): Chico Felitti
Editora: Companha das Letras
Páginas: 256
Ano de publicação: 2022
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Entre as décadas de 1970 e 2010, Jacqueline Welch, Andréa de Mayo e Cristiane Jordan comandaram o centro da cidade de São Paulo. Três pessoas T que passaram por mudanças políticas e sociais, sofreram e perpetuaram ameaças e violências diversas, abusos e crimes. Contudo, a história delas quase não aparece nos documentos oficiais. Não restam fotos de Jacqueline com suas “filhas” no bordel. Não há reportagens ou processos de quando Cristiane foi vítima de pedofilia na prostituição. Não há inquéritos policiais dos assassinatos que Andréa dizia ter cometido.Diante desse apagamento loquaz, Chico Felitti, um dos mais engenhosos e inovadores jornalistas da atualidade, resolveu montar uma complexa rede de pesquisa e entrevistas para reconstituir a história de três personalidades fundamentais tanto para São Paulo quanto para a comunidade LGBTQIA+.Com sua narrativa envolvente e embasada, Felitti mostra o que ficou de fora do registro burocrático: a ternura, a riqueza, a generosidade e a irmandade das três travestis fortes que dominaram o centro da maior cidade do Brasil por décadas.
Fala galera do Porão Literário, tudo certo? Hoje minha resenha é do livro Rainhas das noite lançado pela editora Companha das Letras. O livro é de autoria de Chico Felitti e a resenha foi escrita por Leonardo Santos.
"A história de Jacqueline Blábláblá, Andréa de Mayo e Cristiane Jordan é uma história oral. Não há fotos do bordel de luxo que Jacqueline comandou durante décadas em frente à igreja da Consolação, nem registros oficiais dos anos em que Cristiane foi vítima de pedofilia, obrigada a se prostituir quando não tinha sequer treze anos, tampouco inquéritos sobre os assassinatos que Andréa de Mayo declarava publicamente ter cometido. Também não existe rastro de qualquer documentação sobre a riqueza financeira e os feitos artísticos dessas três grandes personagens da noite paulistana."
O cenário noturno LGBTQIA+ de São Paulo nunca mais foi o mesmo desde o momento em que essas três figuras pisaram na capital paulista. Andréa, Jacqueline e Cristiane são figuras, no mínimo, emblemáticas que protagonizam as páginas de Rainhas da noite, uma história que narra a jornada das travestis que dominaram a capital.
Bom, além de ler esse livro eu tive um encontro patrocinado pela Companhia das Letras com vários autores, inclusive o Chico Felitti. Pra quem não reconhece, o autor também foi aquele que pesquisou e narrou o podcast "A mulher da casa abandonada", que explodiu no final de 2022. Enfim, nesse encontro Chico comentou a respeito da urgência que tinha em contar histórias de personagens que viviam apenas na oralidade.
Isso porque há pouco registro escrito e acadêmico dessas figuras tão famosas do mundo urbano de São Paulo, a maioria das histórias que tecem esse livro estavam apenas na oralidade, sendo compartilhada por figuras influentes das baladas e eventos de São Paulo. Colocá-las no papel torna-se, então, uma forma de fazer com que todos conheçam essas figuras.
E que personagens complexos! Existem tantas situações inacreditáveis nesse livro que, por um momento, eu acabei esquecendo que essas figuras são reais e que aquilo, de fato, aconteceu! Chico trabalhou com uma série de relatos e pesquisas a respeito das pessoas que conheciam a tríade de travestis para constituir essas histórias.
O trabalho de pesquisa do autor (que começou durante a pandemia em diversas entrevistas realizadas por telefone e emails) é realmente impressionante. Já vi muito do seu trabalho em "A mulher da casa abandonada", mas por ser uma plataforma diferente, acredito que muito material deva ter ficado de fora! Rainhas da noite tem uma grande variedade de informações (até porque puxa desde 1970 até 2000).
Além de tudo, o livro conta com uma série de imagens das personagens icônicas que roubam a cena desse livro. Um trabalho incrível que deve ser lido por todos!
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