1 de setembro de 2023

ENTREVISTA COM THIAGO ZANON


Fala galera do Porão Literário, tudo certo? Hoje eu trago pra vocês uma entrevista com Thiago Zanon, autor do livro O rio entre nós lançado pela editora Quixote+Do. Nela, o autor comenta sobre suas inspirações de escrita, complexidade dos personagens, o processo de desenvolvimento da narrativa e muito mais. 


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SINOPSE OFICIAL: “A gente vive mais tempo do que precisa. Seria suficiente um amor, uma paixão inigualável e teríamos provado a vida”. Para alguns, pode soar exagerado, outros talvez escutem a melancolia entremeando cada palavra. Mas ninguém teria dúvida de que a frase só poderia ser dita por um romântico, e nada define melhor o protagonista desta história, Alexandre, que aqui relembra a vida marcada por um encontro inesquecível. Estamos em Praga, nos anos 90, com o jovem estudante de medicina chegando a mais uma das muitas cidades que visita durante férias que não têm data para terminar. Uma troca de olhares e a lista de compras acaba esquecida entre as laranjas da banca do supermercado - o desejo urgente conduz os próximos passos do personagem ao que poderia não ter passado de sexo casual, uma aventura de verão que, contra todas as expectativas, se transforma em obsessão, quase um vício que às vezes responde pelo que chamamos de amor. Quanto tempo pode durar uma paixão? Até que ponto a distância perpetua a fantasia e faz da ilusão a base de um vínculo duradouro?"


E vamos a entrevista!


1.    O livro "O rio entre nós" destaca a potência da primeira paixão na narrativa. Como você abordou a complexidade desse sentimento ao longo do livro e quais desafios enfrentou ao retratar a intensidade dessas emoções?

 

Não sei se diria a primeira paixão, mas a mais forte, a mais intensa e marcante. A pergunta que me fiz ao longo da escrita, é quão verossímil é manter um amor em suspensão com tanta intensidade e por tanto tempo. Disseram que a suspensão, a dificuldade da realização, permite aos personagens se manterem conectados, mas essa é apenas a explicação mais fácil. Não acho que seja apenas a distância e a impossibilidade, porque houve diversas possibilidades e as reações foram desencontradas. Tudo o que aconteceu em suas vidas foi muito mais complexo do que realizar uma pulsão afetiva, ou mesmo se afastar dela. Havia muitos motivos, e não vou entrar nos spoilers, para que a intensidade da relação permanecesse ou, opostamente, não fosse forte o suficiente para aproximá-los de vez. 

 

2.    A história tem muitos personagens humanos e multifacetados. Como você se aproximou do processo de desenvolvimento desses personagens ao longo da história, especialmente Alexandre e seus relacionamentos com Sebastian, Paulo e sua mãe?

 

Como escritor, parto do que conheço e vou inventando possibilidades, me espelhando em pessoas que conheço, que viveram situações parecidas, os personagens têm inspirações reais, embora não seja verdadeiro dizer que Alexandre, Sebastian, Paulo ou quem quer que seja, seja inspirado em alguém, não é. Cada personagem é um mosaico. O sentimento de Paulo por Alexandre eu vi algumas vezes na vida, talvez eu já o tenha até vivido. A mãe de Alexandre, que se comporta em 90% do livro como uma pessoa de pouca expressividade, é um personagem inspirado em caso real, alguém que parece não ver nada, mas está muito mais por dentro da narrativa do que parece. Idem o pai, que retrata com alguma fidelidade, relações de homens poderosos com seus filhos. 

 


3.    A obra é dividida em partes com diferentes cenários emocionais. Como você decidiu organizar a história dessa maneira e como a mudança de cenário afeta o desenvolvimento dos personagens e a progressão da trama?

 

São 3 partes, onde a história começa, onde quase tudo se desenrola, e onde termina. Os cenários de começo e fim são os mesmos, achei importante arrematar onde tudo começou, embora em outro tempo, com outras pessoas, e tendo os personagens envelhecido 25 anos. No meu processo de escrita, o local, a cidade têm muita importância, quando leio, tanto quando escrevo, gosto de me identificar com a geografia e a História, reconhecer onde estou, onde os personagens estão. As três cidades que escolhi são ougares que conheço relativamente bem, acho importante passar ao leitor verdades quando descrevo, mesmo com alguma liberdade poética. Estou trabalhando em um novo livro, que conta a história do ponto de vista do Sebastian, ali vamos conhecer mais Praga e Paris, e menos São Paulo. E sabe-se lá mais por onde ele andou, já que o leitor sabe tão pouco dele quando Alexandre não está junto. 

 

4.    Conhecemos a história narrada por Alexandre mais velho, que relembra e reflete sobre sua jornada. Qual foi o impacto de usar esse narrador na história? Como isso influenciou a forma como o leitor se conecta com as emoções e experiências de Alexandre?

 

Tudo o que sabemos da história, vem de Alexandre, com a exceção de um capítulo, onde ouvimos a voz de Sebastian. Até mesmo o próprio Sebastian, conhecemos apenas pela voz do Alexandre. Esse me parece um recurso extraordinário para manter a conexão com o leitor, ele tem alguém com quem estar junto o tempo todo. Um narrador onisciente, ou mais distante, nesse caso, contaria demais, exporia demais, e meu foco sempre foi passar o sentimento que eles viveram, mas sob uma perspectiva. Poderia ter sido o inverso, e é nisso que estou trabalhando agora, para um novo lançamento. O leitor pode não gostar de Alexandre, ouvi isso de alguns leitores, o narrador foi mesquinho, pretencioso, em alguns momentos, mas o leitor conhece os motivos dele e pode desenvolver uma opinião em primeira mão. Ao retirara a opinião do narrador onisciente, abrimos uma conexão próxima entre personagem e o leitor. 


 

5.    Sua escrita poética e descrições detalhadas dos locais contribuem para a atmosfera da história. Como você equilibrou a linguagem poética com a necessidade de avançar na trama e desenvolver os personagens de forma eficaz?

 

Não vejo incompatibilidade. A escrita poética a que você se refere é a forma como penso, ou como o narrador escolheu pensar, podemos avançar na trama com poesia e com descrições que criem a ambientação necessária. Talvez o segredo seja não se estender demais, confiar que o leitor já entendeu onde está e como está o personagem, e está pronto para seguir adiante. Confiar que o leitor entende sem tanta explicação. 

 

6.    "A liberdade é uma noção avassaladora." Como a noção de liberdade é explorada na história, especialmente em relação aos personagens principais e suas escolhas ao longo do tempo?

 

A liberdade tem espaço central na trama, ou melhor dizendo, a busca pela liberdade. Sebastian busca se livrar de uma vida que considera medíocre, quando Alexandre, mesmos sem tanta pretensão, o faz ver as possibilidades, ela sai nessa busca com todas as consequências (boas ou não) que vemos na trama. O mesmo acontece com Alexandre, com sinal trocado, ele também busca sua liberdade a todo custo, estar livre de pressões familiares, de exigências de conformidade de alguém em sua posição, igualmente com as boas e más consequências, sente que o sentimento por Sebastian lhe proporciona isso. Se e como conseguem se libertar, é uma pergunta para o leitor. Eles foram livres? Quando? A que custo?  A liberdade deixa de ser uma noção avassaladora? se transforma em uma busca? 

 


7.    O enredo aborda a inevitabilidade do amadurecimento ao longo dos anos. Como você construiu o arco de crescimento de Alexandre ao longo da narrativa e como isso se relaciona com as mudanças em seus relacionamentos e perspectivas? 

 

Alexandre narra do futuro, mas no começo da história, em 1994 é um jovem adulto e se comporta como tal. As intervenções do narrador buscam expressar essa diferença de perspectiva entre uma voz e outra. Em 1994 ele é inconsequente, sanguíneo, alienado de uma série de questões de sua vida. Quem diria que o Alexandre que conhecemos em Praga tem a vida que vemos quando ele chega em São Paulo? Voltando a questão anterior, em Praga ele foi livre (ou pensou ser). Mas com o passar dos anos e dos fatos, embora uma natureza pessoal se mantenha, ele vai adquirindo camadas, seu comportamento muda, ele cresce. O narrador mostra isso desde o começo, mas as cenas mostram outro Alexandre. Ao final do livro, quando o reencontramos no tempo real da narrativa, ele pode demonstrar onde conseguiu chegar em seu amadurecimento. 


 

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Leonardo Santos



Olá leitories! Meu nome é Leonardo Santos, tenho 28 anos, sou de São Paulo mas atualmente estou em Guarulhos cursando Letras! Minha paixão pela leitura começou desde muito cedo, e é um prazer compartilhar minhas leituras e experiência com vocês!

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