Diferente de muitos livros de true crime, Anjos Cruéis explora um tema que eu não costumo ver em muitos livros por (talvez) ser polêmico demais, mas também nos coloca frente a frente com uma questão moral BEEEM TENSA: crianças podem realmente nascer “cruéis”? Com isso, o autor nos leva a refletir sobre o que leva uma criança a cometer atos de extrema violência, e se esses atos são resultados da natureza ou de uma criação marcada pelo trauma e negligência.
Eu gostei muito da forma como o livro é dividido: Uma série de capítulos que analisam casos emblemáticos, como o de Mary Bell, uma menina de 11 anos que matou duas crianças em Newcastle, e Jesse Pomeroy, um dos primeiros serial killers infantis dos Estados Unidos, que começou a torturar e matar ainda adolescente.
Cruz também explora casos mais contemporâneos, como o de Jon Venables e Robert Thompson, os garotos britânicos que chocaram o mundo ao assassinar o pequeno James Bulger em 1993. E claro, temos um quadro bem completo do caso em si, mas o autor não se limita a nos dar o panorama histórico, mas também o contexto social e psicológico por trás de cada jovem protagonista.
A pesquisa de Cruz é impressionante, não reconheci trabalho no começo, só depois de ler alguns dos casos presentes no livro que eu fiz uma pesquisa sobre o autor e vi que ele já escreveu milhares de perfis desses casos. Isso realmente faz uma diferença, porque a capacidade de entrelaçar dados históricos com análises psicológicas e sociais é um dos principais diferenciais na escrita de Cruz.
Ele faz isso com uma frieza que, ao mesmo tempo que informa, também impacta e faz refletir, principalmente ao questionar como a ausência de estrutura familiar e apoio psicológico podem influenciar a formação dessas crianças. Casos como o de Eric Smith, que assassinou um garoto de apenas quatro anos por impulso e raiva contidos, nos mostram como esses comportamentos podem se manifestar em idades tão precoces — e isso é bem assustador.
Além disso, a edição traz uma galeria visual de mais de trinta casos históricos e uma lista de filmes relacionados ao tema, que pra quem gosta do tema, é um verdadeiro mergulho nesses estudos. Além disso, a obra é também uma ferramenta poderosa para quem estuda criminologia ou psicologia e quer entender como fatores externos — e muitas vezes negligenciados — podem formar jovens com tendências psicopáticas.
O diferencial de Anjos Cruéis está em como Daniel aborda essa brutalidade com uma análise sóbria, mostrando que a sociedade, em muitos casos, tem uma parcela de responsabilidade na criação desses “anjos cruéis.” A obra não apenas informa, mas questiona nossos conceitos sobre culpa, natureza e criação, trazendo um panorama complexo sobre as cicatrizes que carregamos enquanto sociedade. Recomendo de olhos fechados para aqueles que buscam uma leitura que vá além do comum no true crime.