Organizadores: Yukio Mishima
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 272
Ano de publicação: 2024
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Enquanto uma mulher dorme, sua irmã e dois de seus filhos morrem afogados em um acidente trágico em um balneário. A culpa paralisante desta mulher e sua busca por reconstruir a vida são narradas em detalhes precisos, focando sempre nos seus sentimentos contraditórios e complexos. Este conto, que dá título ao livro e que abre Morte em pleno verão , demonstra como Yukio Mishima deve figurar no panteão de melhores escritores da história da literatura: avesso a simplificações maniqueístas, o autor japonês construiu sua obra a partir das zonas cinzentas da consciência humana.Uma coletânea de contos poderosos, nos quais o conflito entre tradição e modernidade ocupa o primeiro plano: de um lado, cenários urbanos e geishas em crise; de outro, o budismo da Terra Pura e o teatro Nô. Suas histórias empregam diferentes estratégias narrativas, mas possuem em comum a dedicação à complexidade psicológica das personagens. Assim, Mishima toma o local e o específico para mergulhar no que há de mais intrigante naquilo que nos torna humanos.
Fala galera do Porão Literário, tudo certo? Hoje minha resenha é do livro Morte em pleno verão, lançado pela editora Companhia das Letras. O livro é de autoria de Yukio Mishima e a resenha foi escrita por Giovana Bertti.
Morte em Pleno Verão é uma coletânea de contos que busca, entre muitas coisas, temas como a morte, o desejo e a impermanência da vida. São dez contos no total, todos banhados em uma atmosfera de beleza e tragédia, algo muito típico do autor.(Inclusive, nós temos vááárias resenhas de livro do Yukio aqui no Porão, é só dar uma pesquisada no nome do autor).
Logo no conto que dá nome ao livro, somos introduzidos a uma cena que é, ao mesmo tempo, terrível e delicada. Uma família vai passar o dia na praia, aproveitando o calor do verão, quando uma tragédia inesperada acontece: duas crianças morrem afogadas. E é aqui que entra o grande talento de Mishima – em vez de focar no horror óbvio da situação, ele nos leva para dentro das mentes e corações dos pais, mostrando o luto e a culpa de uma maneira sutil, porém devastadora.
Um dos pontos altos dessa obra é como Mishima aborda a questão do luto, não só nesse conto, mas ao longo de toda a coletânea. Em cada história, ele parece querer lembrar que a vida é permeada pela perda, pelo desejo de transcendência, e pela inevitável finitude. Mas, ao mesmo tempo, ele nos dá momentos de beleza quase sublime. Isso é algo que me fascina muito nos textos dele – essa habilidade de fazer com que a dor e a beleza coexistam em perfeita harmonia.
Os personagens de Mishima sempre estão à beira de um colapso emocional, mas eles nunca explodem de forma dramática. É como se estivessem presos em uma espécie de prisão interna, lidando com seus sentimentos de uma forma contida e dolorosa. E isso reflete muito a própria sociedade japonesa, especialmente na época em que ele escrevia – uma cultura que valoriza a contenção e a disciplina, mas que, ao mesmo tempo, carrega uma bagagem emocional profunda e complexa.
Agora, se você está esperando grandes reviravoltas ou tramas cheias de ação, pode repensar um pouco. O foco aqui não está no que acontece, mas em como os personagens reagem ao que acontece. Mishima tem uma habilidade única de transformar o banal em algo extraordinário, de te fazer sentir a tensão em momentos que, à primeira vista, parecem mundanos. E isso é algo que só um grande mestre da literatura consegue fazer.
Falando um pouco sobre o estilo de Mishima, é impossível não mencionar o cuidado quase obsessivo que ele tem com a linguagem. Cada frase é meticulosamente construída, carregada de significado e emoção. A prosa dele é ao mesmo tempo densa e leve, carregando uma certa formalidade que é característica da literatura japonesa, mas também cheia de nuances poéticas. Ele escreve de um jeito que te faz pensar duas, três, quatro vezes sobre o que acabou de ler, e quando você percebe, já foi fisgado.
E claro, não dá para falar de Yukio Mishima sem mencionar o contexto em que ele vivia e escrevia. Mishima foi um dos maiores escritores do Japão do século XX, mas também uma figura polêmica. Sua visão sobre a cultura japonesa, especialmente em relação à disciplina e ao tradicionalismo, está presente em todos os seus textos, e Morte em Pleno Verão não é exceção. Ele vivia em um Japão em transição, pós-Segunda Guerra Mundial, onde o país buscava se modernizar, mas sem perder suas raízes. Essa tensão entre o novo e o velho, entre o moderno e o tradicional, é uma constante na obra de Mishima, e isso só faz com que seus textos sejam ainda mais poderosos.
O impacto de Morte em Pleno Verão vai muito além da cultura japonesa. Mishima toca em temas universais – o sofrimento, o desejo, o medo da morte – de uma maneira que ressoa com leitores de qualquer lugar do mundo. E é essa capacidade de nos fazer sentir o peso da existência, sem perder de vista a beleza que existe nela, que torna Mishima um dos grandes da literatura mundial.