Nessa antologia de histórias tão diferentes, preciso dizer que apesar de cada conto ser incrível à sua maneira, o que realmente me conquistou foi "A Coleção". Esse foi o que mais mexeu comigo — mas vamos por partes.
Solitudes é um mergulho no universo da solidão e dos pequenos detalhes que compõem a vida cotidiana. Em dez contos, Renato Moura explora personagens aparentemente comuns, mas que revelam camadas profundas de complexidade e emoções contidas. Cada narrativa traz uma perspectiva distinta sobre como nos conectamos (ou desconectamos) das pessoas ao nosso redor.
O primeiro conto, “Elias e Eu”, é uma porta de entrada para o que teremos a seguir. A história mostra Diego, um homem isolado pela falta de internet, se conectando com a figura de Elias — um personagem de curta-metragem que, mesmo em sua solidão, vive de forma intensa com suas memórias e conversas imaginárias. Essa atmosfera continua em “João do Bar”, onde acompanhamos um cronista aposentado que encontra no bar “Lampião Apaixonado” seu espaço de pertencimento, apenas para perdê-lo para a modernidade. Esses contos iniciais preparam bem o terreno para as experiências de perda e reencontro com si mesmo.
Agora, sobre “A Coleção”... que conto maravilhoso! Aqui, conhecemos Joel, um colecionador de vidros que transfere para seus objetos toda uma bagagem emocional de luto e memória. É impressionante como Moura nos faz sentir o peso e a fragilidade não só dos vidros, mas também da própria vida de Joel. A relação dele com Rosita, cheia de frustrações e desencontros, representa bem os conflitos entre aquilo que queremos preservar e aquilo que inevitavelmente escapa de nossas mãos.
Ao longo dos outros contos, seguimos acompanhando essas "solitudes" humanas de diferentes formas. Em “Eva em Devaneios”, por exemplo, vemos uma mulher que revisita sua vida e escolhas sob a luz de um Bordeaux e uma noite silenciosa. Já “O Espartilho Vermelho” traz uma dose de empoderamento, enquanto “Berê” fecha a obra com a tocante história de uma idosa que encara a solidão com dignidade, sobrevivendo graças às memórias de uma vida inteira.
A escrita de Renato Moura é cheia de melancolia e sensibilidade. Assim como no trabalho anterior do autor (que também tem resenha aqui no site), a escrita de Moura serve para dialogar com as inseguranças e saudades que todos nós carregamos. Os cenários — sejam eles o interior de um quarto bagunçado ou um bar que guarda histórias em suas paredes — são descritos com uma riqueza quase tátil.
Se eu tivesse que resumir, Solitudes é uma homenagem à beleza da vida cotidiana e às relações que criamos, sejam elas com outras pessoas ou com nossa própria história. Para quem gosta de contos que equilibram profundidade emocional com um olhar humano e poético, essa é uma leitura imperdível.