RESENHA: ANTES DO SILÊNCIO

 

Organizadores: Thiago Moretti 

Editora: Clube de autores

Páginas: 66

Ano de publicação: 2024

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Em um futuro não tão distante, um fenômeno misterioso abala a humanidade: pessoas começam a morrer repentinamente enquanto falam, sem explicação aparente. Jornalistas, professores, políticos e outros profissionais cuja vida depende da oratória tornam-se as primeiras vítimas, espalhando pânico por todo o mundo. É então que a Dra. Sofija Pētersons descobre um padrão assustador: cada ser humano possui um limite de palavras a serem pronunciadas ao longo da vida. A única solução para evitar a morte? O silêncio.Essa revelação transforma radicalmente a sociedade. Comunicação oral dá lugar a alternativas escritas ou visuais, e as palavras, agora um recurso finito, são economizadas como ouro. Contudo, o silêncio imposto gera dilemas profundos: como expressar amor, lutar por justiça ou confrontar a dor sem palavras? Nos sete contos que compõem "Antes do Silêncio", Thiago Moretti em conjunto com dois autores ocultos, exploram com maestria as mudanças na essência humana em meio a essa distopia, revelando histórias de amor, perda e resiliência em um mundo onde o silêncio pode salvar vidas, mas também rouba partes da alma.

Fala galera do Porão Literário, tudo certo? Hoje minha resenha é do livro Antes do silêncio, lançado pela editora Clube de autores. O livro é de autoria de Thiago Moretti e a resenha foi escrita por Leonardo Santos. 

"Cada sílaba custa um pedaço de mim, mas prefiro morrer com a voz a viver no vazio"

E se cada palavra dita aproximasse você da morte? "Antes do Silêncio", de Thiago Moretti nos joga em um mundo onde a humanidade descobre que a fala tem um limite e, se excedermos o limite de palavras ditas, morremos. Aos poucos, as elas se tornam um bem precioso, racionado com rigor, enquanto o silêncio se impõe como um novo estilo de vida. Ao longo de sete contos, o livro nos leva por diferentes cenários dessa realidade silenciosa, explorando como o ser humano lida com a impossibilidade de expressar-se livremente.

A história começa com a descoberta do fenômeno pela Dra. Sofija Pētersons, uma cientista que percebe o padrão de mortes inexplicáveis entre aqueles que fazem uso excessivo da oratória. A partir desse momento, o mundo muda radicalmente, levando a sociedade a reorganizar-se em torno do silêncio. Mas o que acontece quando a voz se torna uma escolha de vida ou morte?

Nos contos seguintes, vemos os impactos dessa nova realidade sob diferentes perspectivas. Em "Deixe Ir", um homem encontra na arte uma nova forma de comunicação depois que seu casamento desmorona devido à escassez de palavras. Já "A Fuga Perfeita" traz um par de adolescentes inconformados com as regras, desafiando as restrições impostas pelo mundo ao tentarem escapar delas. Em "A Última Canção", um músico idoso, que nunca abandonou seu violão, precisa decidir se sua derradeira melodia merece ser entoada, mesmo que isso lhe custe a vida.

Talvez um dos contos mais emocionantes (e que eu mais tenha gostado) seja "Mãe", que acompanha uma mulher dividida entre seguir as novas regras e a necessidade de falar com seu filho recém-nascido. A mudez que a sociedade impõe contrasta com seu desejo de acalentar a criança com sua voz, mesmo sabendo que cada palavra dita encurta seus dias.

Em "Gritos no Silêncio", a opressão se torna insuportável, e o protagonista, acostumado a viver no silêncio, percebe um desejo incontrolável de gritar, de libertar-se dessa prisão invisível. Já "Vamos Fazer Ele Falar" nos leva a uma investigação policial onde a comunicação se torna uma ferramenta de poder e manipulação.

O grande trunfo de "Antes do Silêncio" é a forma como Moretti e seus autores convidados nos fazem refletir sobre o papel da fala e do silêncio em nossas vidas. Cada conto, com sua própria atmosfera e narrativa envolvente, nos lembra do peso das palavras e daquilo que perdemos quando somos forçados a guardá-las. Eu amei muito o fato desse elemento distópico ser usado como plano de fundo para questionamentos super profundos sobre nossa própria existência!  Além de, é claro, deixar no ar uma pergunta inquietante: o que realmente nos define, o que dizemos ou aquilo que escolhemos calar?