Organizadores: Sinara Foss
Editora: Gog Ideias
Páginas: 111
Ano de publicação: 2025
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Fotossíntese e outros processos de sobrevivência é um excelente exemplo do poder das alegorias da natureza incidindo sobre o texto literário. Sinara Foss, assim como eu e tantas outras escritoras, confiamos na capacidade reativa da natureza. Confiamos que o mato virá, um dia, retomar o espaço que lhe foi tirado. Arquitetado em três subtítulos: Fase luminosa, Fase de fixação e Rearranjo, a reunião de contos segue a organização do processo vital das plantas. A coletânea abre com o estupendo Fotossíntese, conto que traz a história de uma garota que vê brotar, a partir de seu canal auditivo, uma plantinha. Em decorrência desse acontecimento antinatural, somos conduzidos a reflexões que se chocam com questões ancestrais.
Fala galera do Porão Literário, tudo certo? Hoje minha resenha é do livro Fotossíntese lançado pela editora Gog Ideias. O livro é de autoria de Sinara Foss e a resenha foi escrita por Leonardo Santos.
Em "Fotossíntese" nós temos uma coletânea de contos que utiliza a natureza como alegoria central para explorar temas como resistência, transformação e a relação entre humanos e o meio ambiente. Organizado em três partes — Fase luminosa, Fase de fixação e Rearranjo —, o livro espelha o processo vital das plantas que brinca muito com as metáforas para construir (e destruir) a nossa própria natureza humana.
A obra abre com o conto que leva título ao livro! Ela narra a história de uma garota em cujo ouvido brota uma planta e, aos poucos e ao desespero, a personagem vai se transformando em uma árvore! E, bem... esse é apenas o começo, isso porque esse tom de estranhamento e rebelião da natureza percorre toda a coletânea, como em Desova, onde o ressentimento humano assume proporções materiais absurdas, ou em Peste, que apresenta personagens que, como a autora, são "irmãs das árvores".
Ao ler essa coletânea, principalmente ao ler o primeiro conto, senti que a escrita de Sinara em muito se associa a autora sul-coreana Han Kang, que inclusive ganhou o Nobel de literatura, em seu livro "A Vegetariana".
Por partes, Kang e Foss acabam abordando a violência contra mulheres e a natureza em sua forma mais crua! Esse é o primeiro livro que leio da autora, mas pela sinopse já comecei a leitura sabendo da conexão de "Fotossíntese" com outro livro da autora, "Plural de fêmeas", onde Foss ambienta seus contos na mesma cidade fictícia do livro anterior, Vinha D'Alho.
As histórias se conectam pela temática ou ritmo, mas seus assuntos são dos mais variados possíveis, demonstrando uma certa forma eclética de Foss na escrita. Contos como GPS, que narra a vida de um homem que sempre faz o mesmo percurso de Porto Alegre para Vinha D'Alho mas, em uma noite, decide seguir as orientações estranhas do GPS de seu carro
Ou então Marcador de páginas, que narra a história de um homem que suspeita que a empregada de sua residência está trocando o marcador da página de sua leitura atual, nos levam para caminhos inesperados e, que muitas vezes, nos faz refletir sobre nossa relação com a tecnologia e com as pessoas ao nosso redor.
Eu gostei muito da forma como Sinara consegue tecer esse suspense ao mesmo tempo em que nos conecta com temas tão contemporâneos e tão importantes de serem debatidos! Personagens como Zuleica, Orval, Heitor e a própria construção de Vinha D'Alho com certeza irão ficar na sua cabeça (igual ficaram na minha) depois que você finalizar a leitura desses dezesseis contos presentes no livro.