Desde o primeiro livro dessa série, venho acompanhando a trajetória da Clarissa — e confesso que me apeguei a ela de uma forma que não esperava. A escrita da Fernanda tem algo de muito íntimo, quase como se ela tivesse colocado cada dúvida e cada dilema adolescente sob uma lente de aumento! E é exatamente isso que Reunidos entrega: uma história que pulsa junto com o amadurecimento de seus personagens.
Neste volume, reencontramos Clarissa lidando com a ausência de Ângelo, figura angelical que esteve ao seu lado nos volumes anteriores como amigo imaginário. A decisão de se afastar dele foi dolorosa, mas inevitável: Clarissa acredita que a presença dela pode condená-lo ao inferno — e não dá pra dizer que ela esteja errada.
Em Reunidos, essa tensão explode. Cansado de resistir e corroído por sentimentos que ele mal entende, Daniel assume uma nova forma — agora como um jovem atraente, estudante da mesma escola de Clarissa — e se aproxima dela com ainda mais intensidade.
E aqui a história toma um rumo muito interessante.
Daniel, que sempre foi símbolo de proteção e renúncia, começa a ser tomado por emoções humanas: desejo, ciúme, raiva. Em outras palavras, ele começa a se perder. A queda aqui não é literal, mas emocional — e é angustiante acompanhar isso de perto. Ainda assim, é uma queda que faz sentido dentro do arco dele. Daniel não é mais o mesmo anjo dos livros anteriores. Ele está dividido, humano demais pra ser celestial, mas ainda celestial demais pra se entregar aos impulsos.
Clarissa, por outro lado, também não é mais a mesma. Cresceu. Sente. Deseja. E começa a experimentar pela primeira vez o que é se apaixonar por alguém que ela mal pode (ou deveria) tocar. A relação entre os dois se intensifica, principalmente com os momentos que compartilham dentro da banda — a escolha de usar a música como ponto de encontro foi uma sacada excelente. Os ensaios, as festas, os olhares trocados em silêncio... tudo ajuda a construir esse clima de tensão e descoberta que embala o livro.
Mas o que mais me chamou atenção em Reunidos foi o cuidado da autora em construir essa jornada como um rito de passagem. O tom colegial, com as preocupações típicas da adolescência, contrasta com temas mais densos como fé, culpa e desejo. Essa mistura funciona — e muito.
O final, como não poderia deixar de ser, me deixou roendo as unhas. A preparação para o próximo volume, Abrasados, promete elevar ainda mais os riscos e os conflitos. Fernanda Egger tem conseguido manter a série relevante, emocionalmente afiada e cheia de camadas. Reunidos é, pra mim, o volume mais maduro até agora.