Organizadores: Fernanda Egger
Editora: Alarde
Páginas: 464
Ano de publicação: 2023
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Clarissa sofre em segredo pela ausência de Ângelo, porém sabe que tomou a decisão correta de afastá-lo, por sentir que o amigo angelical ainda corre o risco de ir para o Inferno por causa dela.Ávido pela companhia de Clarissa, Daniel, seu anjo da guarda, luta contra a tentação que Belzebu representa. Porém, cansado de resistir ao destino, deseja voltar a fazer parte da vida de sua protegida, mesmo em segredo.Enquanto a adolescência e a escola ocupam o cenário deste livro, as amizades de Clarissa se ampliam, principalmente quando resolve formar uma banda para se apresentar em um festival no final do ano letivo. Ela não é mais uma criança, está crescendo, se transformando, e esta situação pode ser ainda mais perigosa aos afetos de Daniel.E se seus instintos deixassem de ser apenas protetores e se tornassem mais... complicados?Quantos Pecados Capitais ainda podem tentar um anjo condenado?
Fala galera do Porão Literário, tudo certo? Hoje minha resenha é do livro Reunidos, lançado pela editora Alarde. O livro é de autoria de Fernanda Egger e a resenha foi escrita por Leonardo Santos.
Clarissa achou que afastar Ângelo fosse o suficiente pra manter as coisas sob controle. Mas o vazio que ficou depois da partida dele acabou criando espaço pra algo novo — ou melhor, pra alguém novo. Agora é Daniel quem está mais próximo. Anjo da guarda encarregado de protegê-la, ele começa a sentir que o papel que cumpre já não é suficiente.
Entre missões e silêncios, Daniel decide abrir mão das regras que sempre seguiu e adota uma forma humana, se infiltrando no colégio e ficando lado a lado de Clarissa nos corredores, nas aulas e nos ensaios da nova banda que ela resolve montar com os amigos.
Enquanto isso, o grupo se vê cada vez mais envolvido por uma rotina que mistura ensaios, apresentações e sentimentos que surgem de forma inesperada. Entre palcos e composições, a banda vira o único lugar em que Clarissa consegue respirar, mesmo quando tudo parece desmoronar ao redor.
Mas a aproximação de Daniel não vem sem consequência. O vínculo entre eles cresce, e com ele, vêm também os conflitos. Clarissa começa a entender que existe um limite entre o que ela quer e o que deveria querer. E Daniel, por mais que lute contra isso, começa a se afastar de tudo o que conhecia. O que antes era sagrado agora se mistura com o humano, e o preço dessa mudança talvez seja alto demais pros dois.
Desde o primeiro livro dessa série, venho acompanhando a trajetória da Clarissa — e confesso que me apeguei a ela de uma forma que não esperava. A escrita da Fernanda tem algo de muito íntimo, quase como se ela tivesse colocado cada dúvida e cada dilema adolescente sob uma lente de aumento! E é exatamente isso que Reunidos entrega: uma história que pulsa junto com o amadurecimento de seus personagens.
Neste volume, reencontramos Clarissa lidando com a ausência de Ângelo, figura angelical que esteve ao seu lado nos volumes anteriores como amigo imaginário. A decisão de se afastar dele foi dolorosa, mas inevitável: Clarissa acredita que a presença dela pode condená-lo ao inferno — e não dá pra dizer que ela esteja errada.
Em Reunidos, essa tensão explode. Cansado de resistir e corroído por sentimentos que ele mal entende, Daniel assume uma nova forma — agora como um jovem atraente, estudante da mesma escola de Clarissa — e se aproxima dela com ainda mais intensidade.
E aqui a história toma um rumo muito interessante.
Daniel, que sempre foi símbolo de proteção e renúncia, começa a ser tomado por emoções humanas: desejo, ciúme, raiva. Em outras palavras, ele começa a se perder. A queda aqui não é literal, mas emocional — e é angustiante acompanhar isso de perto. Ainda assim, é uma queda que faz sentido dentro do arco dele. Daniel não é mais o mesmo anjo dos livros anteriores. Ele está dividido, humano demais pra ser celestial, mas ainda celestial demais pra se entregar aos impulsos.
Clarissa, por outro lado, também não é mais a mesma. Cresceu. Sente. Deseja. E começa a experimentar pela primeira vez o que é se apaixonar por alguém que ela mal pode (ou deveria) tocar. A relação entre os dois se intensifica, principalmente com os momentos que compartilham dentro da banda — a escolha de usar a música como ponto de encontro foi uma sacada excelente. Os ensaios, as festas, os olhares trocados em silêncio... tudo ajuda a construir esse clima de tensão e descoberta que embala o livro.
Mas o que mais me chamou atenção em Reunidos foi o cuidado da autora em construir essa jornada como um rito de passagem. O tom colegial, com as preocupações típicas da adolescência, contrasta com temas mais densos como fé, culpa e desejo. Essa mistura funciona — e muito.
O final, como não poderia deixar de ser, me deixou roendo as unhas. A preparação para o próximo volume, Abrasados, promete elevar ainda mais os riscos e os conflitos. Fernanda Egger tem conseguido manter a série relevante, emocionalmente afiada e cheia de camadas. Reunidos é, pra mim, o volume mais maduro até agora.