A história acompanha Bia, uma adolescente acostumada a viver de mudança por conta do trabalho da mãe. Dessa vez, seu novo destino é Lagoa Escura, uma cidade pequena no interior de São Paulo que abriga um internato para filhos da elite local. Recém-chegada, Bia precisa lidar com a sensação constante de deslocamento e com a falta de conexão com o novo ambiente.
Na escola, Bia acaba conhecendo Romão, um colega solitário que vive em Lagoa Escura desde que nasceu. Os dois criam uma aproximação e, a partir disso, Bia descobre que Romão está em busca de um livro antigo, supostamente mágico, escrito por seus antepassados. Com o tempo, ela passa a perceber que essa busca tem mais a ver com ela do que imaginava — e que o passado da cidade guarda segredos que podem afetar diretamente sua vida.
O que começa como uma simples amizade entre dois adolescentes se transforma em uma jornada em busca desse livro escondido, que pode conter respostas sobre as origens da magia, antigas perseguições comandadas por uma ordem religiosa local e a conexão entre as famílias de ambos. A cada pista, os dois se veem mais envolvidos em acontecimentos que escapam da lógica comum e que podem reabrir feridas profundas na cidade.
Logo de cara, fui fisgado pela ambientação: uma cidadezinha do interior de São Paulo chamada Lagoa Escura. Nome sugestivo, né? E aqui ele funciona muito bem como cenário de mistério, magia e segredos. É pra lá que Bia se muda com a mãe, depois de anos indo de cidade em cidade sem realmente fincar os pés em lugar algum.
Aí começa o que me fez grudar nas páginas. A trama vai se desenrolando aos poucos, mas sempre entregando alguma coisa que te faz querer continuar. Edu soube trabalhar bem essa construção mais lenta, principalmente em entender suas dúvidas, seus medos, e o que está em jogo.
Romão, aliás, é um personagem meio "estranho", isso porque não dá pra entender muito bem quais são suas intenções no começo, o fato dele ser mais "diferentão" do restante dos elitistas do internato já me colocou no time dele! Já a Bia é bem diferente: Ela questiona, observa, mas também se deixa levar quando percebe que está envolvida até o pescoço nessa história de bruxaria, ordem secreta e perseguições do passado.
Aliás, a parte histórica é um dos pontos altos aqui. O autor costura a narrativa com referências a um passado marcado por uma espécie de “inquisição” conduzida por uma ordem de freiras — as Irmãs Bonifácias — que caçavam bruxos e bruxas na região. A ideia é ótima e me lembrou como é bom ver elementos da fantasia sendo usados com referências locais, sem precisar recorrer a castelos europeus ou florestas medievais.
Outro ponto legal foi o mistério e o que parece ser uma "caça ao tesouro". O livro entrega algumas pistas no caminho, mas o final ainda conseguiu me surpreender de verdade. Não esperava que as peças fossem se encaixar daquela forma, e isso me arrancou um uma boa surpresa no plot final!
Água, Fogo e a Luz da Lua é uma fantasia urbana com cara de casa. Eu amei como o livro fala de questões próximas da nossa realidade, e ainda assim traz aquela sensação de encantamento que só histórias bem contadas conseguem oferecer. Tem pitadas de romance, uma tensão bem construída, e uma atmosfera que mistura o mágico com o cotidiano sem forçar a barra.
Por fim, galera, essa é uma leitura que recomendo com gosto — principalmente pra quem quer conhecer mais da fantasia nacional e se deixar levar por uma história que respeita seu tempo, seus personagens e o universo que cria.