Julia tem tudo para ser vista como uma mulher realizada. Proprietária de uma livraria — sonho que conseguiu concretizar com muito esforço —, ela vive em uma casa confortável, atrai olhares por onde passa e, aos olhos dos outros, parece ter uma vida estável.
Mas, como tantas vezes acontece, a aparência esconde um acúmulo de dores antigas e traumas que ela tenta sufocar todos os dias. Afastada da família e com a única amiga verdadeira morando a quilômetros de distância, Julia se vê cada vez mais sozinha, encarando uma rotina que deixou de fazer sentido.
Quando uma notícia devastadora abala de vez o pouco que restava de equilíbrio, ela percebe que não pode mais continuar como antes. É então que toma uma decisão corajosa: embarcar para a Índia.
A viagem, inicialmente planejada como uma tentativa de fuga, acaba se tornando o ponto de partida para algo muito maior — uma jornada profunda de autoconhecimento e reconstrução. A espiritualidade, os contrastes e a riqueza cultural do país não só transformam sua percepção do mundo, como a fazem entrar em contato com camadas de si mesma que ela nunca havia explorado.
Que história maravilhosa! Pra começar, Valdelice escreve essa travessia com um cuidado que me chamou atenção desde os primeiros capítulos. É uma história que vai se revelando aos poucos, e justamente por isso nos fisga com tanta força.
Julia é uma personagem que carrega suas dores em silêncio, mas que vai se abrindo conforme se permite viver novas experiências — e entre essas experiências, o amor também tem espaço. O romance que nasce entre ela e Ryan é construído com delicadeza e intensidade, sem pressa, mas cheio de implicações emocionais que tornam tudo mais real.
Outro ponto alto da narrativa é a relação de Julia com Elizabeth, sua melhor amiga. Mesmo distante, a conexão entre as duas permanece forte, e essa amizade funciona como um dos pilares da história. A autora não idealiza nenhum dos vínculos que Julia estabelece — cada um deles é marcado por falhas, silêncios e aprendizados, o que só reforça a humanidade das personagens.
Julia chega à Índia fragmentada, à beira do colapso, e aos poucos vai se permitindo quebrar — para, enfim, renascer.
Com capítulos curtos e uma escrita fluida, Encontro Com a Vida é daquelas leituras que acolhem. A ambientação é envolvente e muito rica (um dos meus pontos preferidos de toda a obra), os personagens são bem construídos, e a jornada emocional é conduzida de maneira honesta, sem recorrer a dramatizações exageradas.
Ao terminar o livro, me vi tocado por essa narrativa sobre recomeços e também sobre olhar para si mesmo. Bom, "Encontro com a vida" é um livro que fala diretamente com quem já sentiu a necessidade de se reencontrar — e que mostra que, por mais difícil que seja, essa busca vale a pena!