Organizadores: Maurizio Ruzzi
Editora: Independente
Páginas: 16
Ano de publicação: 2025
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Um barco viking corta as águas do norte em direção às ilhas saxãs. A travessia é dura, e os homens que remam sabem dos perigos que os aguardam logo à frente. Entre eles, dois guerreiros seguem lado a lado — um movido pela fúria, o outro pelo senso de escolha.Quando a batalha chega, tudo parece conspirar contra os invasores. Mas a história não termina no campo de guerra. Há algo reservado para os que sobrevivem... ou quase sobrevivem.O que significa morrer com honra? Quando o inimigo decide zombar daquilo que você mais acredita, ainda é possível manter a dignidade? E se, no fim, o impossível acontecesse? "O Viking" é um conto inédito escrito por Maurizio Ruzzi, autor de "Contos do Machado" e "Espaço Profundo e Outras Histórias".
Fala galera do Porão Literário, tudo certo? Hoje minha resenha é do livro O Viking, lançado de maneira independente. O conto é de autoria de Maurizio Ruzzi e a resenha foi escrita por Leonardo Santos.
É preciso coragem para se escrever sobre vikings. E não só pela distância histórica e geográfica que nos separa dessas figuras mitificadas pela cultura pop — mas porque, nos dias de hoje, é difícil encontrar uma narrativa que não ceda ao clichê da brutalidade gratuita ou do heroísmo inflado. Maurizio Ruzzi, no entanto, entrega em O Viking algo que vai contra a maré do que já conhecemos: um conto que se apoia no trágico, no silêncio e na dor para alcançar uma beleza quase mítica.
O autor demonstra um trabalho notável de pesquisa histórica, e isso se revela tanto na ambientação precisa quanto na escolha cuidadosa dos termos e conceitos — o conto traz até um glossário ao final, explicando expressões como earldorman, thegn e outras tantas que ajudam a construir uma atmosfera verossímil sem jamais parecer didática ou expositiva demais.
A história começa com o mar revolto e guerreiros vikings remando para mais uma invasão. Não há espaço para o glamour da conquista. Os personagens — rudes, exaustos, humanos — não são heróis grandiosos, mas homens acostumados a viver (e morrer) sob a sombra dos deuses.
Entre eles, destacam-se dois: Borgar, um gigante marcado por uma cicatriz no rosto e uma fúria quase mítica, e seu companheiro de remo, Gunnar, muito mais silencioso e resignado. A batalha que se segue é sangrenta, desbalanceada, condenada desde o início.
Mas é no pós-batalha que O Viking alcança seu momento mais cruel e, paradoxalmente, mais belo. O que torna esse final ainda mais poderoso é sua ambiguidade. A dor, o calor das chamas, o grito de ódio que precede a morte — tudo isso dá lugar a um instante de paz. Talvez um delírio, talvez um milagre. O conto não oferece respostas fáceis. Mas insinua, com uma delicadeza rara, que até mesmo em uma morte sem honra pode haver um lampejo de transcendência.
Com um estilo narrativo ágil, mas impregnado de lirismo, O Viking é brutal sem ser grotesco, épico sem ser fantasioso. Maurizio Ruzzi escreve como quem entende — e respeita — a história que conta. E ao fim, o que fica é o silêncio.