Aqui acompanhamos Mia e Manuel, um casal jovem que divide uma república em Bolonha, Itália. Eles estão juntos há anos, tempo suficiente pra que os planos de futuro comecem a se impor, mesmo quando o presente ainda parece um lugar meio incerto.
Manuel sonha em ser escritor e corre atrás do “futuro ideal”. Mia, por outro lado, parece travada, acabou de largar o emprego, se vê encurralada pela pressão das expectativas e, ao mesmo tempo, começa a se questionar se aquele amor que parecia dar conta de tudo ainda dá conta de si mesma.
O que Flávia faz aqui é capturar o momento exato em que dois jovens se percebem adultos. E isso não acontece com discursos ou grandes reviravoltas, mas com silêncios, incômodos que crescem no canto da sala e verdades que se recusam a ser ditas até que se tornem insuportáveis. É nesse vácuo entre o que se sonha e o que se vive que a HQ encontra sua potência.
Visualmente, o traço de Biondi é um espetáculo à parte. Com um azul escuro e branco expressivo, ela desenha sentimentos com uma precisão quase dolorosa — como na cena que você vê na imagem, em que a composição do lago e das árvores abraça o momento com uma força poética quase ritualística. A forma como ela alterna quadros grandes e cenas intimistas dá ritmo à narrativa sem nunca perder a intimidade que a história exige. É um estilo limpo, melancólico, mas incrivelmente vívido.
E é isso que mais me impressiona: a honestidade. Feitos um para o outro não tenta oferecer respostas fáceis. Mia se sente atraída por outra pessoa, e isso não é tratado com escândalo ou julgamento, mas como um reflexo de alguém tentando entender a si mesma. O romance se desfaz na mesma medida em que as pessoas crescem: isso dói. Mas também é necessário.
No fim das contas, essa graphic novel é menos sobre um casal e mais sobre o que acontece quando o amor deixa de ser suficiente, não por falta de sentimento, mas porque o mundo exige mais do que só estar junto.
Se você já se sentiu em dúvida entre continuar ou partir, entre amar alguém e se amar, essa história vai te falar muito. E vai doer — mas é aquela dor boa, de coisa que importa.