Organizadores: Jon Amaré
Ano de publicação: 2025
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Garotos de Seiva é um romance intimista entre dois rapazes bissexuais que, após anos de uma profunda amizade virtual, se conhecem pessoalmente e percebem florescer sentimentos românticos um pelo outro. O livro, ambientado numa São Paulo antes inexplorada pelos personagens, mergulha nas nuances do amor, do erotismo, da amizade e do medo do desconhecido, abordando o amadurecimento emocional e a construção de laços profundos. Com um estilo tomado pela prosa poética e narrado por um personagem que dirige todo o seu discurso ao outro, como se estivesse lhe escrevendo uma carta, Garotos de Seiva reflete sobre questões como identidade, afetividade e autodescoberta, mostrando que viver um amor leve é possível.
Fala galera do Porão Literário, tudo certo? Hoje minha resenha é do livro Garotos de Seiva, lançado de maneira independente. O livro é de autoria de Jon Amaré e a resenha foi escrita por Leonardo Santos.
O enredo parte de uma premissa simples: dois garotos que se conhecem virtualmente e finalmente se encontram pessoalmente durante a Bienal do Livro de São Paulo. Só que o livro não está interessado em grandes reviravoltas ou acontecimentos cinematográficos. Ele mergulha, ao invés disso, nos pequenos gestos: o café passado com canela, o abraço tímido no sofá, o tremor das mãos antes de uma conversa séria. Tudo ali tem peso. Tudo importa.
A primeira parte, “Ontem”, é o retrato puro da ansiedade que precede o encontro. O narrador, que não tem nome — talvez porque poderia ser qualquer um de nós —, constrói pontes entre o desejo e o medo. O texto se desenha com um lirismo que não é forçado: há poesia no toque, no suor, no silêncio desconfortável depois do motel. O erotismo aqui não é gratuito. Ele serve a um propósito: mostrar como os corpos também são territórios de memória.
Já “Hoje” é a tentativa de viver o depois. O romance se firma, ainda que sem rótulos claros. São páginas em que a rotina se mistura com a arte, onde escrever sobre o outro vira uma forma de permanência. A relação se constrói em meio à insegurança, ao carinho, aos textos trocados no bloco de notas. Há cenas de sexo, sim — e são belas, sinceras, bem escritas —, mas o que mais me pegou foi o jeito como o narrador vai compreendendo que o amor também é feito de medo e contradição.
Em “Amanhã”, a narrativa encontra um equilíbrio entre despedida e esperança. A volta do amado para casa, o reencontro com a mãe, os olhares trocados sem precisar dizer tudo em voz alta. O texto continua íntimo, mas agora carrega uma maturidade que foi sendo construída capítulo a capítulo. Quando o narrador lança seu próprio livro no final — o mesmo livro que estamos lendo? —, a sensação é de que tudo valeu a pena. Mesmo as dores.
Jon Amaré escreve com uma coragem rara. “Garotos de Seiva” não se esquiva de nada: fala de trauma, fala de tesão, fala de ternura, fala do corpo como espaço de cura. É um livro curto, mas não raso. Um livro que começa como relato e termina como declaração. Daquelas que a gente escreve quando está apaixonado, mesmo sem saber exatamente por quem.
No fim, o que fica é a certeza de que o amor, quando é verdadeiro, transborda. E “Garotos de Seiva” respinga por todos os lados.