Há um limite para a maldade? E para a dor? Uma alma melancólica. Um sonho profano. Dois passageiros. Um ato de desespero. Uma doença. Uma manhã de novembro. Um corpo feminino. Um desejo. Uma jovem de 16 anos. Uma tragédia. Uma escolha. Uma rebelião. Uma heresia.Treze textos em que os corações das personagens sangram em razão de abalos físicos ou psicológicos e que farão sangrar, também, o coração do leitor. E não haverá redenção que estanque o sangramento.
Aqui, Eliete reúne 13 contos que transitam por dores sem glamour, emoções que ardem e situações-limite. É um livro sobre corações partidos, mas não por amores românticos: são corações rasgados por traumas, distúrbios, ausências e violências. Histórias que não pedem cura e que nos incube de escutar.
Dentre os contos, tiveram vários que eu amei! Falei no vídeo que gravei aqui para o Porão de Satiríase e Desejo, por exemplo; mas aqui trago outros três que me pegaram em cheio.
O primeiro deles foi justamente o que dá título ao livro: Quando o Coração Sangra. Um texto que é quase um desabafo sobre depressão e criação artística. A personagem está exausta. A tristeza, nesse caso, não é inspiração, mas sim um limite. Achei interessante como Eliete mistura referências culturais com a fragilidade da personagem sem perder a crueza. A página termina como um lamento que ecoa mesmo depois que o texto termina.
Outro conto que me marcou foi Efeito Sanfona, onde acompanhamos uma personagem encurralada por padrões estéticos e pela culpa em comer. É um relato angustiante e íntimo, com frases curtas que lembram o ritmo do pensamento obsessivo. Eliete escreve com precisão o colapso emocional de alguém que tenta controlar o corpo a qualquer custo. E o mais potente aqui é que essa falha não é romantizada. É só mais um ciclo que recomeça, como quem aperta o botão de reinício num jogo que nunca se vence.
Já No Presídio me pegou por outro motivo. Aqui a violência é explícita, e brutal. A rebelião num presídio é narrada com detalhes viscerais, e a autora não alivia na imagem. Um conto que choca não só pelo que mostra, mas pelo que esconde: a desumanização completa. A crítica social está ali, mas é o horror que fala mais alto. E Eliete não parece interessada em suavizar nada disso.
No geral, Quando o Coração Sangra não é um livro confortável. Não tem alívio cômico, não tem redenção, não tem aquele final de conto que fecha com uma frase bonita. Tem incômodo, tem corte e tem silêncios. Eliete escreve com firmeza e humanidade, sem medo de encarar o que é feio, sujo ou sombrio. Um encerramento digno para uma trilogia que mergulha fundo nas dores humanas. Se você gosta de contos que provocam e não fazem concessões, esse livro é uma escolha certeira.


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