10 de setembro de 2025

RESENHA: BREU DE MARÉ



Organizadores: Diego Itabira 
Editora: Independente
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Na ilha do Marajó, às margens do rio Mapuá, resiste o povoado do Tombo do Jutaí, onde vive Zé Santino. O menino cuja infância foi atravessada pela violência paterna, nutrida pelo ódio ferrenho do pai pelos trejeitos do filho numa época onde ser homem estava atrelado a determinados comportamentos nocivos. Seu corpo foi marcado com as ausências de um mundo sem acolhimento quando sua mãe não resistiu à solidão do abandono do homem que tanto amava e mergulhou nas águas barrentas.Num turbilhão de maledicências que o atingiu como um banzeiro durante toda a infância, este romance segue as trilhas do apagamento do nome morto de batismo e na sua peregrinação de transição de gênero na década de 1980 até o nascimento de Gisberta numa sociedade patriarcal e transfóbica, marcada por diversas transformações políticas e sociais.Da luta pela sobrevivência, nasceu a coragem para vencer o preconceito nas margens obscuras de uma Belém do Pará complexa e pouco amigável à diversidade que sempre insistiu em permanecer apesar da violência infringida.

 

Fala galera do Porão Literário, tudo certo? Hoje minha resenha é do livro Breu de Maré, lançado de maneira independente. O livro é de autoria de Diego Itabira e a resenha foi escrita por Leonardo Santos. 



É no povoado do Tombo do Jutaí, na ilha do Marajó, que acompanhamos a vida de Zé Santino. Criado em um lar sufocado pela violência e pelo rancor do pai, Estevão, ele cresce à sombra de uma masculinidade tóxica extremamente abusiva. Quando a mãe não resiste à solidão e mergulha nas águas do rio Mapuá, o mundo de Zé desmorona de vez. Tudo isso ocasiona em um embate que marca o fim da existência de Zé como nós o conhecemos. 

Acompanhamos, então, sua peregrinação para abandonar o nome de batismo e dar lugar a Gisberta em plena década de 1980, um tempo e um lugar nada gentis com quem ousava existir fora das regras. Gisberta e Dandara então tentam lidar com a realidade das quais são impostas a ela; mas tudo muda quando Gisberta recebe uma notícia que a abala: Sua avó, Maria Juracir, está doente. Com isso, Gisberta volta para o lugar onde cresceu na esperança de vê-la novamente. 



O livro é dividido em quatro partes muito bem construídas. Na primeira, acompanhamos Zé Santino tentando encontrar algum respiro em meio a uma infância marcada pela violência do pai, Estevão, e suavizada apenas pelo carinho da mãe e pela amizade sincera de Dimas. É uma introdução dura marcada por uma opressão familiar intensa que leva a um momento que me deixou de estômago revirado. 

Na segunda parte, temos um salto no tempo: agora conhecemos Gisberta, vivendo em uma Belém da década de 80 que não poupa quem ousa existir fora das normas. A transfobia e a homofobia são constantes, mas é também aqui que surge Dandara, uma amiga que Gisberta vê como irmã e que lhe oferece o apoio e a força necessários para continuar. Nessa parte nós temos um panorama de uma sociedade que causa dor, mas encontramos na relação entre Gisberta e Dandara uma cumplicidade e resistência.

A terceira parte traz Gisberta e Dandara de volta a Tombo do Jutaí para visitar Maria Juracir, e com esse retorno vêm também os fantasmas que nunca ficaram para trás. O passado volta com força, e cada lembrança parece puxar para a superfície o preconceito, a hipocrisia e as feridas abertas que Estevão representa. É um retorno que não oferece paz, mas que mostra como o enfrentamento é, às vezes, o único caminho para seguir em frente.


A narrativa é pesada e não evita mostrar cenas de abuso, e justamente por isso ela é tão necessária: Breu de Maré é um retrato triste e verdadeiro da realidade, especialmente nos anos 80, mas também é uma denúncia das estruturas que insistem em perpetuar ódio e exclusão. Itabira escreve com uma força poética impressionante, misturando o ritmo das marés, os sons da Amazônia e a crueza da vida real.

Terminei o livro com a sensação de ter atravessado águas turvas, mas também com a certeza de que histórias como a de Gisberta precisam ser contadas. É um romance que machuca e acolhe na mesma medida, e que coloca Diego Itabira entre os nomes que merecem ser acompanhados de perto.

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Leonardo Santos



Olá leitories! Meu nome é Leonardo Santos, tenho 28 anos, sou de São Paulo mas atualmente estou em Guarulhos cursando Letras! Minha paixão pela leitura começou desde muito cedo, e é um prazer compartilhar minhas leituras e experiência com vocês!

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