25 de outubro de 2025

RESENHA: NONADA



Organizadores: Renato Amado
Editora: Cajuína
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Neste livro conta-se a história de Galeano, um homem comum em um universo paralelo ao nosso. Motorista de aplicativo, namorido entediado e pai deslocado que atravessa os dias embalado pela rotina e pela melancolia. Até que olha pela lente de um telescópio e encontra outro olhar de volta. Assim começa um encontro silencioso com Seiryu. Eles passam a se ver todos os dias, através das lentes, criando uma linguagem própria, feita de gestos, piscadelas e ausência. Uma intimidade sem palavras, mas cheia de sentido. O autor nos entrega um romance filosófico e emocional, que fala sobre a solidão que nos une e os pequenos milagres que nos mantêm existindo.

 

Fala galera do Porão Literário, tudo certo? Hoje minha resenha é do livro Nonada, lançado pela editora Cajuína. O livro é de autoria de Renato Amado e a resenha foi escrita por Leonardo Santos.

Aqui, somos jogados em um mundo plano e descomunal, em que os continentes se tornam ilhas intransponíveis em uma terra plana e extensa. O cenário parece, à primeira vista, mais próximo de um exercício de ficção científica, mas logo fica claro que essa “geografia impossível” serve para algo mais intricado: um espelho de nossas relações, sempre mediadas, sempre à distância.

É nesse espaço que conhecemos Galeano, um protagonista marcado por contradições. Motorista de aplicativo, pai de família e ex-praticante de esportes radicais, ele vive uma rotina banal; mas o que redefine sua trajetória é o telescópio apontado para além do mar, instrumento pelo qual descobre Seiryu — uma mulher que, aos poucos, passa a habitar seu campo de visão e sua imaginação. A partir daí, o que se estabelece não é exatamente um diálogo, mas uma tentativa de comunicação feita de gestos, silêncios e olhares.

Esse olhar atravessado pelo telescópio, no entanto, nunca é simples. Enquanto Galeano se apaixona por esse contato, sua vida cotidiana segue: Amanda, sua companheira de um relacionamento conflituoso e apático, e Jobson, seu filho, aparecem como lembranças constantes de uma realidade que insiste em chamá-lo de volta. 

A narrativa de Renato Amado consegue unir essa trama íntima a um pano de fundo alegórico. O planeta de continentes isolados em uma era de conexões impossíveis. Nisso, o telescópio é, ao mesmo tempo, ponte e barreira: aproxima Galeano e Seiryu, mas reforça a distância intransponível entre eles.

Um dos pontos mais interessantes do livro está justamente nessa ambiguidade. Galeano é um personagem cheio de contradições: há nele ternura e desejo, mas também ciúmes, egoísmo e uma masculinidade em crise. O autor não suaviza esses traços, e isso faz com que a leitura seja, em alguns momentos, desconfortável, mas ao mesmo tempo que reverbera em muitos discursos que vemos hoje. 

Seiryu, por sua vez, corre o risco de permanecer como projeção do olhar de Galeano, e é nesse ponto que o livro provoca reflexão. Até que ponto o outro existe por si mesmo e até que ponto é moldado pelo olhar de quem observa? Essa dúvida atravessa a obra, e o incômodo que causa parece ser intencional — afinal, Nonada é também sobre a impossibilidade de apreender o outro em sua totalidade.

Apesar de curto, o romance é repleto de camadas. O prólogo e o epílogo, narrados de forma quase científica, dão à narrativa um tom metaficcional que amplia a experiência de leitura: a literatura, aqui, é vista como um instrumento tão válido quanto a ciência para tentar entender o mundo.

No fim, Nonada é um livro sobre olhar, silêncio e ausência. O título já anuncia isso: o vazio, o que não se diz, o espaço entre as palavras. E talvez seja nesse vazio que o livro encontra sua maior força, pois nos convida a ocupar os espaços deixados em aberto.

 

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Leonardo Santos



Olá leitories! Meu nome é Leonardo Santos, tenho 28 anos, sou de São Paulo mas atualmente estou em Guarulhos cursando Letras! Minha paixão pela leitura começou desde muito cedo, e é um prazer compartilhar minhas leituras e experiência com vocês!

Equipe do Porão

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