Olá pessoal do Porão Literário! Hoje vou compartilhar com vocês três motivos para ler O tratado dos opostos, de Hud Cunha, lançado pela editora Viseu
“Nas páginas seguintes, você encontrará uma coleção de poesias que escrevi para juntar meus próprios pedaços. Não há reconstrução sem morte, logo é preciso exorcizar a dor vivendo-a. Mergulhei nos meus sentimentos mais íntimos, nos meus dilemas existenciais e nas minhas angústias cotidianas. Os poemas transitam entre o real e o imaginário, explorando a linha tênue entre sentimentos e ações. Vivo num transe entre as coisas, / Uma linha tênue entre sentimentos e ações, em uma luta constante para encontrar significado no vazio e na plenitude da vida."
1. Uma janela crua para a vulnerabilidade humana
O maior impacto de "Tratado do oposto" não está apenas em seus versos, mas na confissão corajosa que o autor faz logo no início. Hudson Cunha abre seu peito e compartilha sua história de vida, marcada por uma batalha constante contra a ansiedade, a depressão e o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC). Ele descreve sua primeira crise depressiva aos 14 anos, enquanto lidava com a descoberta da sexualidade em um colégio católico rigoroso após anos sofrendo bullying.
A narrativa pessoal se aprofunda com eventos que moldaram sua existência, como o diagnóstico de leucemia de seu irmão mais novo e seu próprio diagnóstico de câncer no testículo anos depois. É essa vulnerabilidade que serve de alicerce para cada poema. Ler sua história é entender que a poesia que se segue não é um exercício de ficção, mas um relato de sobrevivência, uma tentativa de dar sentido a uma vida atravessada por dores profundas. Essa honestidade cria uma conexão imediata e poderosa, validando as lutas que muitos de nós enfrentamos em silêncio.
2. A poesia como ferramenta de exorcismo e reconstrução
No resumo da obra, o autor afirma que escreveu para "juntar meus próprios pedaços" e que, para se reconstruir, era preciso "exorcizar a dor vivendo-a". Esse é o segundo grande motivo para ler o livro: a arte é apresentada aqui em sua função mais primal e necessária. Os poemas são o resultado de um mergulho nos sentimentos mais íntimos, nos dilemas existenciais e nas angústias cotidianas do autor.
Versos como "Vivo num transe entre as coisas, / Uma linha tênue entre sentimentos e ações" e a constante sensação de potencial não realizado em "Quase vivi, / Quase fui feliz" mostram como a escrita se torna um campo para explorar o caos interno. A obra é um testemunho de como a linguagem pode transformar o sofrimento. Em poemas como "Cola de sangue", o eu lírico decide lixar os próprios pedaços quebrados e usar o sangue que escorre para fixá-los novamente. É uma imagem brutal que resume o projeto do livro: usar a própria ferida como matéria-prima para a cura.
3. Uma filosofia de vida forjada na dor: O Tratado do Oposto
O livro transcende o relato pessoal e a expressão artística para entregar uma filosofia de vida. Após largar tudo — trabalho, casa, família e amigos — o autor embarca em uma jornada de autoconhecimento na Índia. É lá que ele compreende a tese central que dá nome ao livro: a vida só é plenamente entendida através de seus opostos.
Essa filosofia permeia toda a segunda metade da obra. Cunha argumenta que só é possível compreender a alegria se sentimos profundamente a dor ; só valorizamos a companhia se apreciamos a solidão ; e só compreendemos a vida se encaramos a morte. Ele usa a figura do deus hindu Shiva, o destruidor e regenerador, como símbolo desse ciclo eterno: não há criação sem destruição. "Tratado do oposto" nos ensina que, em vez de fugir das emoções difíceis, devemos vivê-las até o fim para que o espaço seja liberado para seus contrários
E aí, ficou curioso? Comece agora mesmo a ler esse livro!




















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