2 de dezembro de 2025

RESENHA: O EREMITA



Organizadores: bruno barbosa
Editora: M.inimalismos
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Foi enterrado em uma cova rasa sem marcação, lápide, muito menos um epitáfio. Era, no sentido literal do verbo, um andarilho, contudo nunca fora indigente. Viveu a vida da maneira que o aprazia e dessa forma usufruiu das benesses na mesma proporção dos dissabores. Capaz de aceitar meias verdades, jamais aceitou meias mentiras, sabia muito bem as consequências de suas escolhas e ainda assim as aceitou de bom grado. Passou pelo menos um quarto da vida perambulando sem rumo e traçando objetivos imediatos, nunca vislumbrou grandes planos ou longos objetivos para si. Aprendeu tarde que não devia carregar maiores expectativas, estas, na maioria das vezes, não passavam de fantasia atrás de fantasia cujo intento não correspondem à verdadeira vontade, trata-se de sonho momentâneo sobre o outro."

 

Fala galera do Porão Literário, tudo certo? Hoje minha resenha é do livro O Eremita lançado pela editora M.inimalismos. O livro é de autoria de Bruno Barbosa e a resenha foi escrita por Leonardo Santos. 



Numa cidade do interior marcada pela rotina, um jovem trabalhador de olaria observa a chegada de um andarilho peculiar. Em meio a isso, ele é cativado pela figura de Aldo, um homem que veste um sobretudo amarelo e uma bandana azul, carregando sua vida num saco de lixo. Renomeado pelos arquétipos que encarnou durante a vida, Aldo passa a ser o confidente do narrador, relatando sua trajetória que vai da busca pela arte até a sarjeta.

Aldo, com sua história trágica, é o epicentro de uma narrativa sobre o fracasso humano. Lá em São Paulo, durante a juventude, ele descobre que a arte da atuação está entrelaçada com a própria identidade. Por meio de aulas de teatro e testes de televisão, ele aprende a emprestar vida para personagens fictícios, é esse tipo de entrega que o faz sonhar com o registro profissional, o famigerado DRT, como uma forma de validação.

No entanto, depois de mergulhar nesse mundo, Aldo começa a questionar se insistir nesse sonho é apenas uma ilusão de grandeza, já que muito do que Aldo vive ali contribui para o desmantelamento de sua relação com a família e seu emprego formal.

Criado numa família conservadora que valoriza o trabalho braçal, Aldo enfrenta um dilema: seguir o caminho seguro como seu irmão engenheiro ou se entregar à vida boêmia e incerta do teatro. Enquanto a vida adulta cobra seu preço com a morte do pai e o desemprego, Aldo se vê obrigado a encarar a realidade. Ele se pergunta se é possível viver de arte sendo apenas mediano ou se a rua é o único destino para quem não se encaixa nas engrenagens da sociedade.

Seria fácil descrever o livro de Bruno Barbosa como apenas um drama sobre um sem-teto, mas isso não seria o suficiente para exaltar a sensibilidade e a profundidade psicológica que o autor precisou ter para escrever essa história.

Me encantei pela honestidade de Barbosa desde quando li as primeiras páginas e já me impactei com o enterro de Aldo em cova rasa; por isso estava super ansioso pra entender como ele chegou ali.

Mas o sentimento que ficou era de querer ouvir mais, o autor realmente foi muito bom em criar uma analogia com o Tarot, onde a vida de Aldo transita entre o Louco, o Enforcado e, finalmente, o Eremita. O poder das escolhas e, principalmente, das consequências que elas carregam é elevado à máxima em "O Eremita"; além disso, vemos a indiferença social como uma ferramenta de apagamento.

Além de Aldo, conhecemos Marvila, um amor platônico e atriz talentosa que cruza seu caminho; Ernesto, um professor e amigo invejoso que sabota sua carreira; e Iago, o companheiro de boemia que o acolhe temporariamente. Todos eles têm seus papéis na derrocada de Aldo e fazem parte de suas memórias, todos eles se tornam peças de um quebra-cabeça que Aldo tenta montar antes de seu fim trágico na estrada.

O tom de realismo cru é muito forte nos dois primeiros terços do livro, no final a coisa fica mais contemplativa e vemos como a aceitação guarda um poder quase que libertador, especialmente na cena em que ele reencontra o mar. Eu me apaixonei por esse livro e toda sua humanidade!

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Leonardo Santos



Olá leitories! Meu nome é Leonardo Santos, tenho 28 anos, sou de São Paulo mas atualmente estou em Guarulhos cursando Letras! Minha paixão pela leitura começou desde muito cedo, e é um prazer compartilhar minhas leituras e experiência com vocês!

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