RESENHA: A ÚLTIMA LUZ DA CONSOLAÇÃO

Organizadores: Rafael Warlet

Editora: Independente

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"São Paulo, 1993. Sob a garoa constante, um crime perturba o silêncio de um restaurante vazio na Consolação. Uma mulher é encontrada morta. O corpo limpo. A cena intacta. Nenhuma prova. Apenas uma faca cravada no peito e uma sensação de algo Errado. Um investigador e uma perita forense são chamados para investigar. O que encontram vai muito além de um assassinato comum. Há silêncio demais. Ordem demais. E um vazio que parece premeditado. Enquanto a investigação mergulha nas entranhas da cidade, o investigador e a perita descobrem que esse crime pode ser apenas a primeira rachadura De algo maior. Algo antigo. Algo que nunca deixou de respirar sob o concreto. A Última Luz da Consolação é um romance policial com atmosfera densa, alma noir e ecos de horror cósmico. Um mergulho na São Paulo dos anos 1990, onde o passado nunca morre e o verdadeiro terror não está no sangue, mas no que permanece em silêncio."

 

Fala, galera do Porão Literário, tudo certo? Hoje a resenha é de A Última Luz da Consolação, livro de Rafael Warlet publicado pela Ipê das Letras. A resenha foi escrita por Leonardo Santos.

A história começa em 1993, numa São Paulo atravessada pela garoa e por uma sensação constante de desalinho. Uma mulher é encontrada morta dentro de um restaurante vazio na Consolação em uma cena limpa com o corpo intacto e nenhum vestígio que facilite o trabalho dos investigadores. 

Apenas uma faca cravada no peito e uma "calmaria" que não corresponde ao que se espera de um crime dessa magnitude. A partir daí, acompanhamos um policial e uma perita forense tentando decifrar o que aconteceu naquele lugar que, desde o primeiro instante, soa calculado demais.

O responsável pela investigação é o policial Pedro Lacerda, chamado ao restaurante depois que o dono do local, Dante Vasconcelos, encontra a vítima. Junto da perita forense, Pedro tenta destrinchar o que aconteceu naquela madrugada. A primeira etapa da investigação os leva por pequenos trechos da Consolação, por delegacias e pelas ruas de São Paulo. Enquanto isso, algo de errado (e até mesmo sobrenatural) parece rondar as becos e vielas da cidade. 

O que mais me chamou atenção foi a forma como Warlet constrói essa atmosfera da cidade de São Paulo. Moro aqui e posso dizer que ele a descreve muito bem! Além disso, Rafael consegue colocar uma vibe dos anos 90 com precisão e cuidado, deixando que o cenário impacte a trama de maneira orgânica. Isso me fez lembrar das tardes da minha adolescência vendo filmes noir, quando eu ficava fascinado pela combinação entre investigação, melancolia e uma ameaça que nunca se mostra de imediato. 

O livro conversa com essa sensação, assim como dialoga com leituras antigas de Lovecraft (tanto pela ideia de criaturas sobrenaturais, quanto de que algo anterior a nós continua respirando por baixo do concreto.)

Warlet mantém um domínio constante sobre o ritmo. Nada se apressa, mas nada fica parado. As revelações surgem no momento certo, e o autor parece saber exatamente o quanto mostrar e o quanto deixar no escuro. O resultado é uma leitura que avança com facilidade, mesmo quando o tom se torna mais denso.

A Última Luz da Consolação se destaca por equilibrar investigação, atmosfera e um tipo de horror que não precisa de sangue para inquietar, mas que mesmo assim te deixa super aflito! É um romance que cresce aos poucos e entrega uma sensação persistente de que há mais na cidade  (e na história) do que podemos perceber de imediato.

Para quem gosta de thrillers cuidadosamente construídos e que trazem esse diálogo entre noir e a inquietação cósmica presente nas entrelinhas, é uma leitura que vale cada página.