23 de agosto de 2018

RESENHA: NÃO ME ABANDONE JAMAIS


Não Me Abandone Jamais
Autor: 
Kazuo Ishiguro
Editora:
 Companhia das Letras
Páginas: 344
Resenha escrita por:
 Leonardo Santos

Kathy H. tem 31 anos e está prestes a encerrar sua carreira de cuidadora. Enquanto isso, ela relembra o tempo que passou em Hailsham, um internato inglês que dá grande ênfase às atividades artísticas e conta, entre várias outras amenidades, com bosques, um lago povoado de marrecos, uma horta e gramados impecavelmente aparados. No entanto, esse internato idílico esconde uma terrível verdade. 'Não me abandone jamais' reflete, através da ficção científica, a questão da existência humana. 



Após a leitura de Não me Abandone Jamais, fiquei com muitas dúvidas sobre como escrever uma resenha sobre o livro de Kazuo Ishiguro. Isso porque sua obra me fez ter alguns questionamentos muito interessantes sobre o que nos realmente torna humanos e como lidamos com o fato de que nossa vida é finita, então logo se torna difícil escrever sobre.


Se esses questionamentos absorvem quem lê o livro, imagina então para o Ruth, Tommy e Kathy, personagens que protagonizam a história. Conhecemos a narrativa através de Kathy, que trabalha como uma "cuidadora" a alguns anos e planeja se aposentar da função. As funções estabelecidas no começo do livro podem deixar o leitor um tanto confuso, mas só no começo mesmo. A narrativa funciona como um acervo de relatos e memórias da protagonista, dando como início sua infância vivida em um internato. 

Em Hailsham (como o internato era chamado), havia um forte doutrinamento de que os alunos ali presentes passariam por duas fases após abandonarem o colégio. Primeiro seriam cuidadores, uma espécie de enfermeiros, para então servirem como de doadores de órgãos. Ali conhecemos Ruth e Tommy, dois dos personagens que formam uma amizade com Kathy que se perpetua durante a narrativa. 

Não direi muita coisa sobre a trama pra não estragar vários elementos que Ishiguro tece ao desenvolver da história. Mas um ponto muito interessante é a forma de como o autor consegue aflorar os sentimentos e desejos dos seus três personagens conforme eles vão crescendo. Seja em questões infantis (como o medo por não ser escolhido para brincar, por exemplo), adolescentes (primeiros relacionamentos, sexo e abandono) ou até mesmo questões mais adultas (responsabilidades, perda e dores). Kazuo utiliza todas as ferramentas para criar personagens complexos que conseguem te prender a atenção. 

"Não consigo parar de pensar nesse rio, não sei onde, cujas águas se movem com uma velocidade impressionante. E nas duas pessoas dentro da água, tentando se segurar uma na outra, se agarrando o máximo que podem, mas no fim não dá mais. A corrente é muito forte. Eles precisam se soltar, se separar. É assim que eu acho que acontece com a gente. É uma pena, Kath, porque nós nos amamos a vida toda.” 

Preciso abrir um parênteses para falar um pouco sobre o autor, Kazuo Ishiguro nasceu no Japão, mas mudou-se com sua família para a Inglaterra ainda criança. Durante sua adolescência, tentou a carreira de cantor, gravou várias músicas e mandou para várias gravadoras, porém foi ignorado por todas elas. Frustrado, dedicou-se à escrita. Esse é o primeiro livro que eu li dele, entretanto já adicionei alguns outros à minha lista. Conforme já disse, o cara consegue captar a essência dos personagens de forma impressionante e extremamente realista. Não é a toa que Ishiguro ganhou o Prêmio Nobel de Literatura em 2017, tendo disputado com nomes de peso, como Margaret Atwood (autora de O Conto da Aia) e Ian McEwan (autor de Expiação). 

Não me Abandone Jamais consegue ser uma obra ficcional e humanista que provoca os mais variados sentimentos em seu leitor desde a melancolia ao desejos escondidos nas nossas várias camadas. Amor, responsabilidade e amizades são colocados em evidência, além de um forte questionamento sobre o que nos torna o que somos, vale dar uma escutada na música "Never Let Me Go", que é explorada durante um dos capítulos mais emocionantes da história. 

O livro conta com uma adaptação para o cinema, lembro que assisti essa adaptação a muitos anos, antes mesmo de saber que era inspirado em um livro, portanto não me recordo o suficiente para julgar se a adaptação faz jus ao romance de Kazuo ou não, pretendo assistir para verificar, mas para quem se interessou, segue o trailer:

16 comentários:

  1. Nossa amei esse livro.Nunca tinha ouvido falar mas pela sua resenha me chamou muita atenção!!

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  2. Oie tudo bem?
    Não tinha conhecimento sobre esse livro, mas parece ser muito bom!
    Quem sabe eu não leia. Rsrs

    Abraços!

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    1. Sim! E mesmo se não quiser ler, assista o filme (por mais que não tenha a mesma profundidade da obra, é muito bom também)

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  3. Oi, tudo bem ?

    Nossa o post está lindo e a obra está muito interessante, já havia visto o trailer antes , porém fiquei com medo de baixar o filme e ter um final muito melancólico.

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    1. Ele realmente é um tanto melancólico, mas vale muito a pena pela reflexão que ele traz

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  4. Muito bom , fiquei super-curiosa para ler este livro , parece-me bastante interessante , obrigada pela sugestão !

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  5. Oi, Leonardo! Tudo bem?
    Cara, vendo sua foto percebi que estava na Bienal também. Que ena que ainda não te "conhecia", pois teria ido lhe dar um abraço com certeza. Eu fui e foi uma experiência única participar da Bienal e revisitar São Paulo, minha segunda casa.

    Sobre o livro, que LINDO ver "Não me abandone jamais" por aqui. Também me senti como você quando fui escrever a resenha desse livro. Eu não sabia como começar e ainda acho que não fiz jus a essa narrativa tão rica e reflexiva, que traz questionamentos sobre o ser humano mesmo (que inclusive é uma características das obras do autor, quando você ler mais livros irá perceber). Me emocionei muito lendo esse livro.

    Já leu "O Gigante enterrado"? Vale a pena também. Estou terminando o último que a Companhia publicou aqui, em breve escreverei a resenha também.

    Abraço,
    Diego França ~Blog Vida & Letras
    www.vidaeletras.com.br

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    1. Olá Diego, tudo bem?

      Uma pena não termos contato no tempo antes da bienal, uma pena mesmo! Mas quando vier pra São Paulo me avisa, poxa!

      Fiquei com o mesmo sentimento que você após terminar de escrever a resenha, realmente pra uma obra tão incrível quanto essa fica difícil se expressar de um modo que faça jus ao livro, mas tentamos ao máximo haha.

      Não li esse ainda não, porém já vou adicionar a lista de livros.

      Um abraço!

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  6. Oi Leonardo!!
    Eu nunca tinha visto esse livro, mas através de sua resenha, eu fiquei bastante interessada em ler. Fora que pra ter ganhado de O Conto da Aia deve ser um livrão mega interessante. Vou ler com certeza!!
    Eu já vi esse filme no catálogo da Netflix, mas nunca assisti e nem fazia ideia que a história era uma adaptação!!
    Bjs
    https://almde50tons.wordpress.com/

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    1. Sim, mas se não me engano Ishiguro ganhou pelo conjunto total de suas obras, um baita mérito.

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  7. Oi, Leonardo, eu jamais li nada o Ishiguro, mas está na minha lista de leituras que quero fazer em breve. Comprei recentemente dele o "Noturnos: histórias de músicas e anoitecer", que deverá ser minha porta de entrada para a obra dele.
    Ensaio Aberto | Teofilo Tostes

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    1. Minha porta de entrada foi Não me Abandone Jamais mesmo, e confesso que pretendo ler todos os outros livros do autor, adorei o estilo narrativo e o enredo proposto.

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  8. Quem não se questiona em algum momento da vida, sobretudo acerca dos seus sentimentos, não é? Ótima dica de leitura!

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Leonardo Santos



Olá leitories! Meu nome é Leonardo Santos, tenho 28 anos, sou de São Paulo mas atualmente estou em Guarulhos cursando Letras! Minha paixão pela leitura começou desde muito cedo, e é um prazer compartilhar minhas leituras e experiência com vocês!

Equipe do Porão

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