O Construtor de Pontes
Autora: Markus Zusak
Editora: Intrínseca
Páginas: 528 páginas
Resenha escrita por: Leonardo Santos
Livro cedido pela editora
e em A menina que roubava livros é a morte quem conta a história, em O construtor de pontes, novo romance de Markus Zusak, presente e passado se fundem na voz de outro narrador igualmente potente: Matthew, o filho mais velho da família Dunbar. Sentado na cozinha de casa diante de uma máquina de escrever antiga, ele precisa nos contar sobre um dos seus quatro irmãos, Clay. Tudo aconteceu com ele. Todos mudaram por causa dele. Anos antes, os cinco garotos haviam sido abandonados pelo pai sem qualquer explicação. No entanto, em uma tarde ensolarada e abafada o patriarca retorna com um pedido inusitado: precisa de ajuda para construir uma ponte. Escorraçado pelos jovens e por Aquiles, a mula de estimação da família, o homem vai embora novamente, mas deixa seu endereço num pedaço de papel. Acontece que havia um traidor entre eles: Clay.
É Clay, então, quem parte para a cidade do pai, e os dois, juntos, se dedicam ao projeto mais ambicioso e grandioso de suas vidas: uma ponte feita de pedras e também de lembranças - lembranças da mãe, do pai, dos irmãos e dele mesmo, do garoto que foi um dia, antes de tudo mudar. O tempo, assim como o rio sob a ponte, tem uma força avassaladora, capaz de destruir, mas também de construir novos caminhos. O construtor de pontes narra a jornada de uma família marcada pela culpa e pela morte. Com uma linguagem poética e inventiva, Markus Zusak nos presenteia mais uma vez com uma história inesquecível, uma trama arrebatadora sobre o amor e o perdão em tempos de caos.
A construção de laços é uma das coisas mais complicadas impostas ao ser humano. Tal tema já foi abordado por grandes obras e pensadores de todo o mundo no decorrer da história, principalmente quando esses laços são entre membros familiares, a relação entre pais e filhos, irmãos e etc. Nesse contexto Markus Zusak traz uma obra envolvente acompanhada de toques de poesia e tons introspectivos, que vaga entre o que compõe as relações humanas, suas fragilidades e complexidades.
Na história, acompanhamos Matthew Dunbar, o primogênito da família que fica encarregado de cuidar dos irmãos após a morte da mãe e o desaparecimento do pai. Matthew tem quatro irmãos e se vê em uma situação desesperadora. Mesmo com a situação em fragilizada, os garotos Dunbar conseguem se reerguer e com isso surge um cenário um tanto quanto inesperado: alguns anos após o abandono, o pai retorna com um pedido estranho, ajuda para construir uma ponte na cidade onde está vivendo.
Todos os irmãos negam o pedido de ajuda do pai, menos um: Clay. O irmão caçula tem o hábito de não ser muito social, e desde o desaparecimento do pai ele se voltou ainda mais para seu mundo, a única coisa que o garoto fazia era treinar atletismo, principalmente corrida. O "sim" de Clay deixa todos os outros irmãos chocados, e com isso a história começa a se desenvolver, sendo contada por Matthew.
Clay sabia que precisava fazer aquilo. Só não estava certo de que conseguia.
O Construtor de Pontes contrasta entre a história dos irmãos Dunbar e também dos pais dos meninos, desde a origem tanto do pai quanto da mãe, até os fatídicos eventos que desestabilizaram toda a família. A perspectiva de Matthew sobre os eventos nos joga dentro do mundo Dunbar, toda a dinâmica entre os irmãos chega a ser uma das partes mais verossímeis de toda a narrativa.
E por falar em narrativa, estou acostumado com a escrita de Markus Zusak, conheço seu estilo de escrita por já estar familiarizado com várias de suas obras. Em O Construtor de Pontes sinto um grande amadurecimento com relação a sua escrita, principalmente na questão de saber como encontrar um equilíbrio entre os capítulos de narravam o passado (como o da história dos pais) e o presente. No passado há um contexto histórico muito interessante passado durante a União Soviética, nestes capítulos a escrita se Markus se assemelha muito àquela vista em A Menina que Roubava Livros, enquanto nos capítulos que narram o presente, é possível notar vários traços similares com obras como O Azarão e A Garota que eu Quero. Todo esse contraste torna a narrativa muito mais rica.
Além disso, existem diversos outros elementos que tornam O Construtor de Pontes uma obra complexa e quase lírica, um dos pontos mais fortes é justamente a forma em como ele é conduzido. No decorrer da trama a diversas referências a Ilíada e Odisséia de Homero, e talvez seja assim que Zusak pensou na obra, mostrando toda a trajetória da família Dunbar e como os pais afetam e sempre afetarão a forma em como os filhos agem e pensam. Clay é desfragmentado durante o decorrer das páginas para que possamos quebrar suas paredes e conhecer suas motivações. E não é só Clay que consegue ser bem desenvolvido, seus irmãos (Matthew, Rory, Henry e Tommy) possuem um tempo bom para mostrarem suas características e se desenvolverem de forma apropriada.
Outro ponto que eu queria muito frisar são as metáforas colocadas no livro, entre os pontos positivos estão o uso lírico de diversas expressões que dão um tom mais romântico a história, evidenciando os gestos dos personagens e suas intenções.
Entretanto, tive alguns problemas com o desenvolvimento da trama, talvez pelo estilo que ela tenha sido escrita (remetendo a clássicos gregos), o começo é um tanto confuso e repicado, principalmente o corte entre os capítulos. Por exemplo, quando você está se ambientando no cenário, o capítulo acaba e o próximo muitas vezes se passa em outro núcleo (seja de personagens ou temporal).
Outro ponto que eu achei que poderia ser melhor desenvolvido foi o arco de Clay com seu pai, por mais que muito da narrativa esteja na beleza de sutileza, senti saudades de diálogos mais profundos entre os dois, ou pelo menos que evidenciassem seus traumas.
No contexto geral, o livro trás a tona todas as dores e feridas que cometemos e sofremos por aqueles que amamos, a força da família e dos laços que nos envolvem e nos moldam desde antes de nascermos. Posso dizer que Markus acertou em cheio em sua obra, a expectativa era gigante por conta do histórico que o autor já carrega, afinal foram treze anos de espera desde o lançamento de A Menina que Roubava Livros.
No final, é o processo que importa, e o processo de leitura desse livro talvez seja o que mais evidencia o poder de escrita do autor e a ideia de que ele quer passar, além do clichê de que Clay é a ponte que seu pai está tentando construir, existe uma mensagem mais intensa e reveladora contida nos personagens desse mundo rico que Zusak criou.
OBS: Para entender um pouco mais do processo de tradução do título, clique aqui!
No final, é o processo que importa, e o processo de leitura desse livro talvez seja o que mais evidencia o poder de escrita do autor e a ideia de que ele quer passar, além do clichê de que Clay é a ponte que seu pai está tentando construir, existe uma mensagem mais intensa e reveladora contida nos personagens desse mundo rico que Zusak criou.
OBS: Para entender um pouco mais do processo de tradução do título, clique aqui!
O único livro desse autor que li foi "A Menina que roubava livros" e isso há uns 10 anos atrás. Gostei bastante da premissa de O Construtor de Pontes, principalmente, por causa das referências a Ilíada e Odisseia.
ResponderExcluirObrigada pela dica!
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirLi "A menina que roubava livros" e adorei. Agora desejo ler essa próxima obra, principalmente por causa das referências que o autor se baseou, segundo o comentário acima. Tenho certeza que essa história na íntegra deve ser belíssima!!!
ResponderExcluirOlá! Ainda não li nada desse autor, mas vi a enorme divulgação que a Intrínseca fez desse livro. Achei a premissa desse bem interessante. Além de ter metáforas é algo que eu gosto muito. Fiquei curiosa para fazer a leitura depois da sua ótima resenha. Parabéns. Beijos
ResponderExcluirhttps://almde50tons.wordpress.com/
Oiii migo, tudo bem? Eu adorei a sua resenha, eu confesso que não gostei de "A garota que roubava livros" quando eu li, mas com certeza esse será um livro que irei ler em breve ahah
ResponderExcluirUm beijo.
Fiquei curiosa após a tua resenha para ler este livro, eu amei A Menina que Roubava Livros, achei genial o lance da morte ser a narradora. Vou olhar com carinho esta obra na próxima ida a livraria.
ResponderExcluirAdorei sua resenha! Li A Menina Que Roubava Livros e já fiquei curiosa pra ler esse também. Obrigada pela dica!
ResponderExcluirUau! Amo livros que contem histórias com temáticas tão atuais e reflexivas como esta.
ResponderExcluirJá quero! Grata pela dica!
Gostei da forma como você comparou o autor em duas obras diferentes escritas por ele. E apesar de clássicos gregos serem realmente "meio confusos", o fato de o autor usar isso como referência para a composição de seu livro, dá um certo charme e agrega valor a obra. Excelente resenha!
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