Organizadores: Cleone Ribeiro
Editora: Artêra
Páginas: 313
Ano de publicação: 2024
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Rotas de Fuga é um romance em que a diversidade de vozes narrativas, acrescida de uma linguagem na qual domina uma atmosfera de incertezas e de ambiguidades, justificam o estilo da narração. Tem como protagonista Helena, quem, na pretensão de escrever um romance, sentindo-se traída pela memória, busca auxílio em um narrador que a socorre quando do preenchimento dos seus vazios. Na condição de narradora depara-se com bloqueios que vão se insinuando no enredo e que por vezes a levam a interromper o discurso. Como compensação à precariedade da sua memória recorre aos sonhos (?) ― os maiores responsáveis pela citada ambiguidade ― por lhe provocarem o despertar de uma memória ficcionada, desvinculada, na maior parte das vezes, da temporalidade.
Fala galera do Porão Literário, tudo certo? Hoje minha resenha é do livro Rotas de fuga lançado pela editora Artêra. O livro é de autoria de Cleone Ribeiro e a resenha foi escrita por Leonardo Santos.
Impressionante e incrivelmente profundo. Fiquei admirado com o quanto "Rotas de Fuga", vai fundo na mente de um personagem em uma narrativa que flerta com diversos gêneros. Um pouco poético, um pouco auto-biográfico, um pouco ficcional... Temos tudo isso dentro de nós, então por que Helena não teria também?
Helena é apresentada como uma aspirante a escritora, lutando para dar vida a um romance enquanto enfrenta bloqueios criativos e lacunas em sua memória. Sua busca por preencher esses vazios a leva a recorrer aos sonhos, que emergem como portais para uma dimensão onde passado e presente se entrelaçam como um só, desafiando por completo as fronteiras da realidade.
Eu gostei muito da forma como Cleone consegue colocar uma personagem tão singular e que, ao mesmo tempo que busca o seu romance busca também sua própria identidade; o mais legal é que Helena não é a única personagem desses devaneios.
Ao lado de Helena, encontramos uma galeria de personagens que adicionam em muito pra história. A relação conturbada entre Helena e sua filha Laura, por exemplo, é intensa e, por muitas vezes, conflituosa. Além disso, a presença do narrador auxiliar, cuja voz se entrelaça com a de Helena, nos faz refletir acerca do processo de contação de histórias, principalmente em um livro que fala justamente sobre o criar literário.
A estrutura não linear da obra me pegou um pouco desprevenido no começo, fiquei meio confuso para tentar me estabelecer com relação a que ponto da história estávamos, mas é essa mesma complexidade que confere à narrativa sua profundidade e ressonância emocional. Ao invés de seguir uma linha narrativa convencional, "Rotas de Fuga" navega em um mar de lembranças que nossa mente às vezes nos deixa à deriva.
Gosto muito de livros que falem sobre o ofício da escrita, "Rotas de Fuga" tem isso e muito mais conforme explora os altos e baixos de uma vida e como ela pode se conectar as histórias que criamos! Eu me apaixonei pela escrita de Cleone e espero que ela continue a lançar outros livros!
"Gosto de gritar bem alto o meu nomeQuantas vezes me dá vontadeassim eu me chamo para mimGosto também de gritar bem altoum som que não diz nadaum som que me liberta"