Guerra, adorável guerra, de Julie Berry, me surpreendeu muito! Recebi o livro sem saber que a história combina a mitologia grega com as realidades da Primeira Guerra Mundial. Eu pensava que o livro era apenas uma espécie de romance de guerra sem esses elementos fantásticos, e olha... EU AMEI! A história é narrada pelos deuses gregos Afrodite, Ares, Hefesto e Apolo, que assumem o papel de testemunhas e participantes do destino dos protagonistas humanos.
O enredo central gira em torno de quatro jovens cujas vidas são profundamente marcadas pelo conflito global. Hazel Windicott, uma talentosa pianista britânica, se apaixona por James Alderidge, um soldado prestes a ser enviado para o front. Através de seus olhos, a autora consegue explorar a delicadeza do amor em tempos de guerra de uma forma super poética e que, confesso, me emocionou muito, principalmente pelos personagens estarem em um cenário cheio de incerteza, medo e perda.
Paralelamente, a narrativa segue Colette Fournier, uma cantora belga que viu sua família ser dizimada pela guerra, e Aubrey Edwards, um músico afro-americano que enfrenta o racismo tanto nas trincheiras quanto fora delas. Além disso, Ares, Apolo, Afrodite e algumas outras figuras bem famosas do imaginário grego observam, narram e discutem no decorrer dessa história.
A mitologia grega é utilizada como uma estrutura narrativa que vai além de uma simples escolha estilística, servindo para aprofundar a análise das forças que regem o destino humano. Afrodite, a deusa do amor, narra a maior parte da história como parte de sua defesa em um tribunal divino, argumentando que o amor é uma força poderosa, capaz de resistir mesmo nas circunstâncias mais adversas. Um dos principais pontos evocados pela história é sua relação com Ares, afinal qual a ligação entre a Guerra e o Amor? Isso já foi muito explorado na mitologia, mas nunca da forma como Julie Berry desenvolveu em seu livro.

Falando na autora, ela demonstra meticulosidade ao recriar a época, abordando não apenas os eventos da guerra, mas também as questões sociais que influenciavam a vida dos personagens. A obra destaca, por exemplo, a experiência dos soldados afro-americanos, frequentemente marginalizados tanto no campo de batalha quanto em sua própria pátria (coisa muito bem abordada em Lovecraft Country, por exemplo). Berry não hesita em explorar as complexidades emocionais de seus personagens, que enfrentam traumas profundos e desafios pessoais enquanto o mundo ao redor deles desmorona.
O romance foi amplamente aclamado por sua narrativa lírica e agora eu consigo entender o porquê! Estou simplesmente apaixonado pela ideia desse livro e mal posso esperar para pesquisar mais sobre a autora, espero que seus outros livros sejam traduzidos logo!