Olá pessoal do Porão Literário! Hoje vou compartilhar com vocês uma entrevista feita com Renato Moura, autor de "Três Marias".
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1. “Três Marias" explora temas como a perda, a fragilidade familiar e os desafios intergeracionais. O que te motivou a contar essa história por meio de três mulheres tão distintas, mas ligadas por um elo tão forte?
Personalidades femininas me fascinam, por isso eu optei por retratar uma família cujo núcleo fosse constituído por três mulheres. Como qualquer família, a de Maria dos Remédios tem suas fragilidades, seus conflitos e enfrenta desafios gerados por diferentes formas de ver e de sentir o mundo. Assim, procurei explorar os embates entre valores distintos, que muitas vezes afastam as pessoas e mesmo quebram os elos afetivos entre elas.
2. Sua narrativa salta entre décadas e utiliza memórias para construir a história. Como foi o processo de criação dessa estrutura não linear e qual a importância disso para o desenvolvimento das personagens?
Acho que contar a história de forma não linear enriquece a narrativa, despertando a curiosidade do leitor desde as primeiras páginas do livro. Confesso que não é uma tarefa fácil, pois exige atenção redobrada, afinal o risco de deixar lacunas ou “fios desencapados” na trama é bem grande. Na construção das personagens, o vaivém temporal contribui para torná-las mais instigantes e menos previsíveis.
3. A obra aborda diferentes períodos da história do Brasil, desde os anos 1980 até a era da pandemia de COVID-19. Como esses contextos históricos moldam a vida das personagens e o desenrolar da trama?
O contexto político e social do Brasil sempre se faz presente nos meus contos e romances. Para mim é uma ambientação importante porque situa melhor as personagens no tempo e no espaço em que vivemos. Procuro aludir a acontecimentos marcantes que de forma mais ou menos direta influenciam o cotidiano delas. Em Três Marias, também me reporto a eventos chocantes no plano internacional, como o massacre na Bósnia na metade dos anos 90. Esse mundo em que as personagens vivenciam seus dramas pessoais não é outro senão o mundo de todos nós...
4. A relação de Maria com Sergei se torna um dos pontos de conflito na narrativa. O que você queria transmitir ao explorar essa deterioração conjugal?
R. Deteriorações conjugais são comuns, acontecem em várias famílias. Possessividade e ciúme excessivo são, no meu entender, alguns dos ingredientes que tornam uma relação a dois explosiva. E Sergei os potencializa em seu convívio cotidiano com Maria dos Remédios. Como muitos homens, ele a vê como objeto de consumo seu, não dando a devida atenção aos interesses e anseios dela.
5. Você desenha um panorama complexo das relações familiares, especialmente no contexto da saúde de Maria dos Remédios. Como foi trabalhar a temática da doença e do cuidado em um ambiente já marcado por tantas tensões familiares?
De fato, a teia de relações que teço é um tanto complexa porque cada uma das Marias é um universo atravessado por tensões, interrogações e buscas diferentes. A doença degenerativa, mal que Maria dos Remédios sabe que poderia ter – e tem – pende sobre a cabeça dela e das filhas como uma espada de Dâmocles. Isso, acredito, contribui para gerar mais suspense quanto ao que vai ocorrer no curso da trama.