Organizadores: Henry Louis Gates Jr.
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 248
Ano de publicação: 2024
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A caixa-preta é uma figura recorrente na literatura afro-americana. É uma metáfora para o aprisionamento do racismo, que inviabiliza o alcance da liberdade mas não consegue frear essa busca incessante; matéria que permeia a experiência em toda diáspora africana e sua frutífera tradição literária. Neste estudo, Henry Louis Gates Jr. se detém à história dos Estados Unidos, mas suas reflexões ecoam no solo brasileiro.Pelo menos desde o século XVIII, aponta o professor, há tentativas consistentes de expressar e moldar a realidade negra. Em 1773, Phillis Wheatley torna-se a primeira poeta afro-americana a ser publicada e, em 1845, o abolicionista Frederick Douglass lança sua impactante autobiografia. A corrente literária segue ao longo dos séculos com W.E.B. Du Bois, Booker T. Washington, Zora Neale Hurston, Richard Wright, James Baldwin e Toni Morrison, primeira mulher negra a ganhar um prêmio Nobel de Literatura, em 1993. Todos eles usaram a escrita para criar um mundo habitável –― um lar ― para si e para os seus.
Fala galera do Porão Literário, tudo certo? Hoje minha resenha é do livro Caixa-preta: Escrevendo a raça, lançado pela Companhia das Letras. O livro é de autoria de Henry Louis Gates Jr. e a resenha foi escrita por Leonardo Santos.
Esse foi meu primeiro contato com a escrita de Henry Louis e o livro é uma jornada densa e necessária pelo modo como a raça — mais especificamente a negritude — tem sido representada e inscrita na literatura, desde a tradição escravista até a contemporaneidade. Gates Jr. investiga como a raça foi construída e desafiada em textos, desde autores como Phillis Wheatley até as vozes mais modernas do ativismo literário.
Caixa-Preta explora a ideia da significação e de como os escritores negros se apropriam das linguagens e convenções literárias brancas para subvertê-las, criando uma literatura que afirma suas próprias identidades e lutas. Gates nos mostra que os autores afrodescendentes utilizam a própria escrita como uma ferramenta de resistência, construindo uma narrativa onde a raça não é apenas um tema, mas um campo de batalha cultural.
O trabalho de pesquisa é incrível. Gates Jr. faz uma costura intelectual meticulosa entre história, literatura e crítica social. Ao longo dos capítulos, ele propõe que a negritude sempre esteve "escrevendo de volta" ao cânone literário branco, em uma tentativa de se afirmar, de se reconhecer, e de sobreviver em um mundo onde a supremacia branca foi a narrativa dominante por tanto tempo.
O livro também é uma celebração do talento e da persistência dos escritores negros, que não só criam arte, mas o fazem desafiando e reformulando as próprias regras da arte literária. Eu fiquei impressionado com a forma como Gates Jr. explora o conceito de "voz dupla" — o ato de falar com duas audiências ao mesmo tempo: uma negra e outra branca, sendo esse um dos grandes pilares da literatura afro-americana.
Caixa-Preta é uma verdadeira aula sobre a importância de compreender as camadas culturais por trás de uma obra. Se você se interessa por literatura, cultura ou questões raciais, Caixa-Preta é uma leitura indispensável. Não é um livro que se lê de uma só vez, mas cada página traz uma reflexão nova, capaz de mudar completamente sua forma de ver a história da raça na literatura. Leiam!