Olá pessoal do Porão Literário! Hoje vou compartilhar com vocês uma entrevista feita com Maurizio Ruzzi, autor de "Espaço profundo e outras histórias"
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1. Maurizio, a ciência é um elemento central nos contos de Espaço Profundo e outras histórias, mas sempre com um olhar humano e filosófico. O que te inspirou a explorar essas questões éticas e emocionais do fazer científico em suas histórias? Você buscou basear algum conto em debates científicos reais?
Tenho formação científica e vivi este meio por muitos anos. Sempre tive gosto por filosofia da ciência também. Tive a felicidade de conviver com físicos e filósofos que contribuíram muito com suas áreas, logo senti esses debates na carne.
Muitas questões, claro, conheci lendo boa bibliografia, e em algumas delas me aprofundei bastante, justamente por achá-las apaixonantes. Os debates presentes no meu texto são, sim, debates genuínos, e acho que é fundamental para um escritor, num texto que dialogue seja com ciência, seja com filosofia, ou mesmo com questões ideológico-morais, ser capaz de fazer seus personagens defenderem diferentes pontos de vista com afinco e paixões realistas. Caso contrário, não é literatura, é mera panfletagem.
2. Cada conto parece apresentar um tom e abordagem distintos: de reflexões éticas em "Mar Morto" à melancolia em "Espaço Profundo" e a visceralidade em "Herodes Enfurecido." Como foi o processo de criação dessas narrativas? Você imaginou os contos como peças independentes ou sempre quis que formassem um conjunto temático?
São independentes, até porque foram escritos em momentos diferentes, o que talvez explique em parte essa diversidade. Mas gosto do efeito final, não ficaria feliz em produzir um livro unidimensional.
3. "Herodes Enfurecido" foi a história que mais me impactou, especialmente por abordar até onde a humanidade pode ir pela sobrevivência. O que você queria provocar nos leitores com esse conto? Existe alguma influência literária ou cultural específica que ajudou na construção desse enredo?
Aqui esbarro numa questão importante para mim. Não acho que um autor deva explicar o que quis fazer com uma história, nem dar qualquer chave de leitura para seus leitores. O livro tem que falar por si próprio, e causar as emoções que causar, sejam boas, sejam ruins.
Mas posso responder pelas influências. Claro que a experiência da pandemia, e todos os debates que vieram junto com ela, é uma influência marcante. Do ponto de vista artístico/literário porém, nesse caso em particular, não consigo identificar nenhuma. Tenho sem dúvida minhas influências, mas elas me parecem bem distantes desse texto. Mais de uma pessoa já mencionou que o texto tem alguma relação ou semelhança com uma obra em particular que é bastante popular (você mesmo mencionou em algum momento), mas é um trabalho que eu particularmente não gosto. Há um ponto de contato entre as duas obras, mas é um acaso completo. As duas obras exploram esse ponto de contato de maneira completamente diferente.
4. Além das questões científicas e filosóficas, seus contos também exploram profundamente as emoções e dilemas humanos. Como foi o processo de desenvolvimento dos personagens, especialmente figuras como Maria e Lucas, que enfrentam decisões tão difíceis em suas histórias?
Simplesmente não consigo responder isso de maneira racional. Os dilemas, claro, são fascinantes, e tento dar carne e osso para meus personagens, porém minha escrita não é um jogo de xadrez, eu não planejo os lances com tanta antecedência. Nós meus textos, os dilemas e personagens "acontecem" ao longo do processo de escrita. Talvez por isso tudo soe tão natural.
5. Ficção científica é um gênero com muitas vertentes, desde distopias sombrias até aventuras tecnológicas. Como você definiria a sua abordagem dentro do gênero? Há planos para expandir os universos criados nesses contos ou mesmo explorar novas histórias com temas semelhantes?
Eu tenho orgulho de escrever ficção científica. Sim, é um gênero muito rico e diverso. Não existe gênero mais diverso na história da literatura. A ficção científica é um universo em si mesma. Não acho que eu siga algum estilo ou abordagem definida, mas o que posso dizer é que oscilo entre a chamada ficção científica "hard", e uma abordagem onde o componente humano é central.
Não planejo retomar nenhum desses textos, apesar de concordar que tanto Mar Morto como Herodes Enfurecido poderiam ter "continuações". Mas não é impossível que aconteça. Está tudo sempre a uma boa ideia de distância.