Organizadores: Emil Ferris
Editora: Quadrinhos na Cia
Páginas: 424
Ano de publicação: 2024
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Do alto de seus dez anos, Karen Reyes é testemunha da turbulência, da decadência e da exuberância de Chicago em 1968. Ela acabou de perder a mãe, seu irmão Dezê esconde segredos da família, e o assassinato de sua vizinha Anka Silverberg é um mistério que ela quer ― e vai ― desvendar. Acompanhamos tudo isso pelo diário dessa menina que se retrata como uma lobismoça. “É desenhando que eu entendo as coisas”, ela nos diz enquanto viaja de trem, trava conversas sobre os significados da arte, investiga subterrâneos com o amigo Franklin/Françoise e descobre o primeiro amor no banheiro de um museu. Sua maior obsessão ainda é a vida e morte de sua vizinha do apartamento de cima, Anka. Sobrevivente do Holocausto, as experiências atrozes da amiga são registradas por Karen nas páginas pautadas deste caderno de colégio ― e fazem paralelo trágico com todos os monstros que precisa enfrentar. Em desenhos virtuosos que colocam lado a lado os terrores do mundo real e criaturas do além, Emil Ferris conclui Minha coisa favorita é monstro lembrando que a realidade é o que pode haver de mais aterrorizante. E que a arte, nossa capacidade de contar histórias e os amigos que a sociedade insiste em estigmatizar são nossa única salvação.
Fala galera do Porão Literário, tudo certo? Hoje minha resenha é do livro Minha coisa favorita é monstro, lançado pela editora Quadrinhos na CIA. O livro é de autoria de Emil Ferris e a resenha foi escrita por Leonardo Santos.
Se o primeiro volume já encantava por sua originalidade e profundidade, o segundo eleva tudo a um novo patamar, trazendo respostas e expandindo os temas apresentados inicialmente. Este segundo volume, publicado com o mesmo cuidado gráfico impressionante do primeiro, mantém o formato de diário ilustrado que tanto marcou a narrativa anterior, com desenhos que misturam influências do expressionismo e do cinema de horror.
A trama de "Minha coisa favorita é monstro – Volume 2" retoma a investigação de Karen sobre a morte de Anka Silverberg, sua vizinha sobrevivente do Holocausto. Enquanto Karen explora os segredos que Anka deixou para trás, somos transportados para novas camadas do passado de Anka, revelando os horrores vividos na Europa durante a Segunda Guerra Mundial. A autora utiliza esses elementos para abordar questões como trauma geracional, memória e identidade
Além disso, a vida pessoal de Karen ganha destaque, especialmente em relação à sua busca por autocompreensão e aceitação em um ambiente muitas vezes hostil e confuso. Os monstros que tanto fascinam Karen são metáforas poderosas para a alteridade e a resistência às normas sociais, algo que Ferris explora com maestria.
A obra é uma experiência visual tanto quanto literária. Emil Ferris continua a usar o traço como uma extensão da narrativa, traduzindo emoções e sensações que palavras sozinhas não poderiam capturar. Essa integração entre texto e imagem cria uma leitura única, quase cinematográfica, que exige e recompensa atenção cuidadosa.
As influências artísticas de Ferris permanecem evidentes, desde as referências a revistas pulp até ecos de obras clássicas de arte, que ela incorpora ao universo de Karen. As páginas são densas e envolventes, oferecendo aos leitores a oportunidade de se perder em cada detalhe.
Um dos aspectos mais marcantes da narrativa de Ferris é a humanidade que ela injeta em seus personagens. Mesmo quando somos apresentados às facetas mais obscuras de suas histórias, é impossível não sentir empatia por eles. "Minha coisa favorita é monstro – Volume 2" nos lembra que todos carregamos nossas cicatrizes e nossos segredos, e é essa complexidade que nos torna quem somos.
Karen, em particular, continua a ser uma protagonista cativante, com sua curiosidade feroz e sua perspectiva única do mundo. Ela é, ao mesmo tempo, uma criança enfrentando medos muito reais e uma força criativa que reconfigura esses medos em algo poderoso e transformador.
Se você gostou do primeiro volume, este é essencial. E se ainda não começou sua jornada pelos diários de Karen Reyes, não poderia haver momento melhor para mergulhar nessa história tão única e tocante. Uma obra-prima visual e narrativa, que reafirma Emil Ferris como uma das vozes mais inovadoras dos quadrinhos contemporâneos.