A história nos apresenta Berzelius "Buzz" Windrip, um político carismático e populista que, com promessas de restaurar a grandeza da nação, consegue ser eleito presidente dos Estados Unidos. No começo, a gente acompanha como suas propostas absurdas acabam conquistando as massas, mesmo que fiquem cada vez mais perigosas. Quando ele finalmente assume o poder, as coisas desandam rápido: liberdades civis são destruídas, opositores são perseguidos, e um regime autoritário toma conta do país.
O foco principal do livro está em Doremus Jessup, um editor de jornal que observa tudo isso de perto. No início, Jessup acredita que Windrip é apenas mais um político excêntrico e que nada realmente grave pode acontecer. Mas, conforme o novo governo começa a mostrar sua verdadeira face, ele percebe que subestimou o perigo. O que me pegou foi a forma como o personagem é tão humano, cheio de falhas e dúvidas, mas que, ao mesmo tempo, tenta resistir ao caos que o cerca.
O que mais impressiona em Aqui Não Pode Acontecer é como Lewis traduz de maneira brilhante a fragilidade de uma democracia quando as pessoas começam a trocar liberdade por promessas de segurança. É impossível não traçar paralelos com acontecimentos contemporâneos, e isso torna a leitura ainda mais perturbadora. A narrativa de Lewis é ácida, crítica e nos força a encarar a questão: será que estamos realmente imunes a algo assim?
Esse não é um livro que vai te deixar confortável – e nem deveria. Ele é um alerta poderoso sobre os perigos do conformismo e da apatia em tempos de crise. Se você gosta de distopias políticas ou está buscando algo que provoque reflexão, recomendo muito essa leitura. Lewis nos mostra que, enquanto acreditarmos que "isso não pode acontecer aqui," estamos justamente pavimentando o caminho para que aconteça.
Ele não mostra uma transição abrupta ou violenta, mas algo gradual, quase imperceptível, que se infiltra na sociedade através de discursos populistas e do cansaço das pessoas com a política convencional. A genialidade de Lewis está em escancarar que regimes opressivos muitas vezes não nascem de golpes repentinos, mas de concessões pequenas, feitas em nome de uma promessa de estabilidade ou progresso.
Essa percepção torna o livro incrivelmente desconfortável, porque coloca o leitor frente a frente com a nossa própria complacência e capacidade de aceitar o inaceitável. Outro ponto que vale destacar é a humanidade presente nos personagens, principalmente em Doremus Jessup. Ele não é um herói clássico ou alguém com coragem inabalável; na verdade, ele hesita, comete erros e até se omite em alguns momentos. Essa complexidade torna a leitura muito mais real e próxima. Jessup é o reflexo do cidadão comum que, na maior parte do tempo, acredita que o sistema será capaz de se corrigir sozinho.
Enfim, leiam!