Sempre fui muito fã de Alexandre Dumas, autor de livros icônicos como "O conde de Monte Cristo" e "Os três mosqueteiros", é em "O Visconde de Bragelonne", que o autor cria uma despedida digna de seu inesquecível, agora quarteto, de mosqueteiros, mas desta vez com uma dose de melancolia e reflexão que poucos imaginariam para aqueles heróis que um dia simbolizaram a juventude, a bravura e o idealismo.
A história se passa trinta anos após os eventos de "Os Três Mosqueteiros", e o cenário é uma França que abandona o espírito medieval para abraçar uma nova lógica, em um período marcado pela ascensão da burguesia e pela complexidade das disputas palacianas.
Este volume nos apresenta Raoul, o visconde de Bragelonne, filho de Athos, que surge como uma representação de uma nova geração que tenta trilhar seu próprio caminho em meio aos ecos das glórias passadas. Raoul não é apenas um novo mosqueteiro, mas uma ponte entre o velho e o novo, alguém que carrega o peso do legado de seu pai enquanto enfrenta os desafios e as desilusões de seu próprio tempo.
O envolvimento romântico com Louise de La Vallière adiciona um toque de intensidade e drama pessoal à narrativa, especialmente quando somos lembrados de que, para Dumas, o amor e a honra são tão voláteis quanto as intrigas políticas.
A força de "O Visconde de Bragelonne" reside não só na construção dos personagens amadurecidos, mas também na forma como Dumas capta a decadência de uma era e o anseio por novos significados. Os diálogos entre os personagens, em especial, exalam um tom de saudade e resignação, algo quase poético, que revela o olhar de um autor que conhece bem as fragilidades humanas e o peso das escolhas.
Dumas continua hábil em sua crítica mordaz à nobreza e ao sistema político, entregando uma trama cheia de reviravoltas, intrigas e traições, onde os destinos são decididos tanto em batalhas quanto em sussurros e conchavos. Em uma sociedade que agora valoriza menos os heróis românticos e mais os pragmáticos, a máxima “um por todos, todos por um” parece uma relíquia. E, mesmo assim, Dumas sugere que os valores dos mosqueteiros — amizade, lealdade e coragem — transcendem seu próprio tempo, tornando-os imortais.
Esta tradução cuidadosa de Jorge Bastos é um convite à redescoberta de uma saga que, apesar de concluir a jornada de D’Artagnan e seus amigos, permanece viva no imaginário cultural. "O Visconde de Bragelonne" não é apenas uma conclusão, mas uma reverência ao espírito que Alexandre Dumas infundiu em cada linha dessa história, lembrando-nos de que a amizade e a honra podem sobreviver ao passar do tempo, mesmo em um mundo em transformação.