Organizadores: Paul Veyne
Editora: Unesp
Páginas: 344
Ano de publicação: 2024
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Catulo, Propércio, Tibulo, Ovídio, goliardos da Antiguidade clássica, são recriados nestas páginas através da extraordinária visão de Paul Veyne, que estabelece o vínculo crítico em que o amor e a poesia produzem uma estilização da vida cotidiana e a revestem de brilho e intensidade.
Fala galera do Porão Literário, tudo certo? Hoje minha resenha é do livro Elegia Erótica Romana: O amor, a poesia e o Ocidente, lançado pela editora Unesp. O livro é de autoria de Paul Veyne e a resenha foi escrita por Leonardo Santos.
O livro mergulha nos versos de poetas como Ovídio, Propércio e Tibulo, usando a elegia erótica não só como expressão artística, mas como uma chave para decifrar o que as elites romanas valorizavam, temiam e desejavam em suas vidas privadas
Mas o que é elegia? A elegia é uma forma poética que surgiu na Grécia Antiga, caracterizada por sua métrica específica — dísticos elegíacos — e inicialmente associada a temas de lamento e morte. Na Roma Antiga, no entanto, a elegia ganhou um novo enfoque, tornando-se o gênero preferido para explorar o amor, o erotismo e as complexidades das relações humanas, muitas vezes com um tom pessoal e introspectivo, como vemos nas obras de poetas como Ovídio e Tibulo.
Assim, de maneira acessível e bem estruturada, o autor nos mostra que esses poemas eram, ao mesmo tempo, retratos da sociedade e fantasias cuidadosamente elaboradas, nas quais os poetas moldavam suas histórias de amor e desejo.
Paul Veyne deixa claro que a elegia romana não se limita ao erotismo carnal. Ela é também um jogo literário e cultural, repleto de códigos que faziam sentido para os círculos aristocráticos da época. Por trás das imagens de amantes idealizados ou situações cheias de drama, encontramos um rico panorama dos valores sociais, da política e das tensões de gênero de Roma Antiga.
A forma como Veyne explica o papel do erotismo é fascinante: os poetas criavam um mundo de ilusões em que o desejo se torna arte, uma performance quase teatral. Ao mesmo tempo, o livro mostra como esses textos carregam uma sensibilidade rara e um apelo universal, falando sobre temas que atravessam o tempo, como paixão, poder e perda.
A leitura de Elegia Erótica Romana me prendeu por trazer uma mistura irresistível de análise literária e investigação histórica. É impossível não se sentir transportado para as ruas e casas romanas, tentando entender o impacto dessas palavras nas vidas de quem as escreveu ou leu. O que me encantou mais foi o modo como Veyne relaciona o universo particular da poesia com o macrocosmo histórico, mostrando que, mesmo na Roma Antiga, a arte era também política.
Se você curte História ou Literatura, esse é o tipo de leitura que não só expande seu repertório como também faz refletir sobre como moldamos nossas narrativas de amor e poder. Mais uma vez, Paul Veyne prova ser um mestre em abrir janelas para o passado com uma visão profunda e vibrante.