Publicado pela primeira vez em 1946, essa história da nossa rainha do crime traz Hercule Poirot em um caso que, à primeira vista, parece óbvio demais para ser verdade. Mas, como sempre, nada é tão simples quando se trata de um crime dentro de uma família cheia de segredos.
A história começa quando Lady Angkatell, uma mulher excêntrica e conhecida por sua maneira um tanto dispersa de lidar com a vida, convida um grupo de amigos para um fim de semana em sua propriedade, a Mansão Hollow. Entre os convidados estão John Christow, um médico renomado e carismático, sua esposa Gerda, a escultora Henrietta Savernake, alguns parentes de Lady Angkatell e, claro, Poirot, que aceita o convite sem imaginar que o almoço se tornaria palco de um assassinato.
A cena do crime é montada de maneira quase teatral: John Christow é encontrado agonizando à beira da piscina, com sua esposa segurando a suposta arma do crime. Para qualquer um, a culpada estaria clara. Mas Poirot, ao observar a cena, sente que algo ali não faz sentido. O crime parece... encenado? Seria possível que Gerda, uma mulher considerada frágil e passiva, tivesse cometido um assassinato de forma tão explícita? E se não foi ela, quem mais teria motivos para matar John?
A partir daí, Christie desenvolve um dos seus enredos mais sutis e psicológicos. Diferente de outros livros da autora, onde o foco está no mistério e na revelação surpreendente, "A Mansão Hollow" é muito mais sobre os personagens do que sobre a investigação. A construção de Henrietta Savernake, por exemplo, é um dos pontos altos do livro. Escultora talentosa e amante de John, ela carrega uma complexidade que foge do arquétipo da amante rejeitada. Henrietta vê o mundo através da arte e, por isso, sua maneira de lidar com o crime – e com suas próprias emoções – é única.
Já Gerda, a esposa de John, é um verdadeiro enigma. Durante toda a leitura, a impressão que se tem é que ela vive à sombra do marido, sempre obediente e apagada. Mas será que alguém assim não poderia esconder algo mais profundo? E Lady Angkatell, com sua mente que parece estar sempre à deriva, realmente não percebe o caos ao seu redor ou isso faz parte do jogo?
O interessante aqui é que, embora Poirot esteja presente, ele não domina a história como em outros livros. Seu papel é muito mais o de um observador do que o de um investigador ativo. É como se ele estivesse ali não apenas para resolver o crime, mas para tentar entender a complexidade daquelas pessoas.
Para quem espera um mistério convencional, com pistas espalhadas e um final de cair o queixo, "A Mansão Hollow" pode surpreender de outra forma. O crime existe, claro, e há reviravoltas, mas o verdadeiro charme do livro está na forma como Agatha Christie trabalha os dramas internos dos personagens!