Organizadores: Kurt Vonnegut
Editora: Todavia
Páginas: 272
Ano de publicação: 2025
Cidadezinha X, Nova Inglaterra, meados dos anos 1960. Ali cresceu Eileen, a neurótica e imaginativa personagem deste livro. Cinquenta anos depois, ela narra os traumas e as paixões de uma juventude tão implacável quanto sufocante, marcada por eventos que beiram o disparate. Pontuado por um humor sinistro, Meu nome era Eileen é um romance inusitado e brutal que percorre a cartografia de uma formação na suposta terra da liberdade.
Fala galera do Porão Literário, tudo certo? Hoje minha resenha é do livro Meu nome era Eileen, lançado pela editora Aleph. O livro é de autoria de Ottessa Moshfegh e a resenha foi escrita por Leonardo Santos.
Eileen é uma mulher marcada pelo isolamento e pela repressão. Filha de um ex-policial alcoólatra e abusivo, ela cresce em um ambiente sufocante, onde suas principais atividades consistem em se esconder dentro de um casaco surrado, roubar pequenas mercadorias de lojas e alimentar fantasias obsessivas sobre um colega de trabalho. Sua vida parece definida pela apatia e pelo desejo de fuga – até que Rebecca Saint John, uma nova funcionária no reformatório juvenil onde Eileen trabalha, surge como uma figura transformadora.
Rebecca é tudo o que Eileen não é: sofisticada, encantadora, misteriosa. Sua chegada traz um sopro de novidade à rotina monótona da protagonista, que rapidamente se vê envolvida em um jogo de admiração e submissão. No entanto, o romance não segue o caminho tradicional de um drama de amadurecimento. A relação entre as duas mulheres logo se revela um catalisador para um evento perturbador que altera para sempre a trajetória de Eileen.
Moshfegh constrói a narrativa com um tom seco e distante, que reflete a alienação da personagem. A voz de Eileen, que narra sua própria história cinquenta anos depois, é permeada por um humor macabro e uma franqueza desconcertante. Ela não tenta ser uma protagonista simpática – pelo contrário, sua sujeira, suas obsessões e sua falta de autoestima são exibidas sem filtros. Ao contrário de muitas narrativas sobre mulheres que buscam redenção ou superação, Meu Nome Era Eileen não oferece conforto algum.
A ambientação também desempenha um papel crucial na construção da atmosfera do livro. A cidade gelada e sem nome, a casa escura onde Eileen vive com seu pai violento, o reformatório claustrofóbico – todos esses elementos contribuem para um clima de opressão e desamparo.
À medida que a história avança, a tensão cresce de maneira quase imperceptível até atingir um clímax inesperado. A reviravolta não vem na forma de um choque gratuito, mas como uma consequência inevitável da dinâmica estabelecida entre Eileen e Rebecca. O final chega a ser ambíguo e perturbador.
O romance de Moshfegh se destaca por sua habilidade em explorar a mente de uma personagem complexa e falha, sem recorrer a idealizações ou moralizações. Eileen não é uma heroína nem uma vilã – ela é um retrato cru do desejo, da solidão e da capacidade humana de se adaptar às piores circunstâncias.
Meu Nome Era Eileen é um livro incômodo. Com uma escrita afiada e uma protagonista inesquecível, Ottessa Moshfegh entrega um romance psicológico que permanece na mente muito tempo depois da última página.