O livro nos apresenta duas narrativas que se entrelaçam de um jeito genial. De um lado temos Tâmara, uma mulher presa num casamento infeliz com Eduardo, que conhece Roberto numa festa e se vê envolvida num caso que poderia ser só mais uma traição comum... se não fosse pela reação um tanto peculiar do marido.
Enquanto isso, nos anos 1960, acompanhamos a história de Diana, uma jovem enfermeira que sofre uma violência brutal durante uma festa com amigas. O pior? Eurico, uma versão passada do próprio Eduardo, convence ela e as amigas a não denunciarem o crime, com aquela velha desculpa de que "homens são assim mesmo".
O que torna essa história ainda mais fascinante é a forma como a autora vai revelando que Tâmara e Diana são manifestações diferentes da mesma consciência — a Ana Back. Através de visões, Tâmara começa a entender que o que ela vive com Eduardo não é um problema isolado, mas sim um padrão tóxico que se repete através do tempo.
O que mais me pegou nesse livro foi a construção do personagem do Eduardo/Eurico. Não é aquele vilão caricato - ele é assustadoramente real, daqueles que distorcem a realidade e fazem a vítima duvidar da própria sanidade. A forma como ele manipula tanto Tâmara quanto Diana é de deixar todo mundo com os nervos à flor da pele.
A escrita da Renata é daquelas que te prende desde a primeira página. Ela consegue equilibrar perfeitamente momentos de tensão psicológica com passagens quase poéticas, especialmente nas cenas em que Ana interage com Lúcio, esse amor atemporal que a acompanha em todas as suas vidas. Confesso que fiquei com vontade de ver ainda mais desses momentos místicos!
Se eu tivesse que apontar algum ponto de atenção, diria que os primeiros capítulos podem confundir um pouco quem não está acostumado com narrativas não-lineares. Mas garanto que vale a pena persistir, porque quando as peças começam a se encaixar, a experiência é simplesmente incrível.
O final... bem, o final eu não vou spoilar, mas posso dizer que não é daqueles que te dão todas as respostas de mão beijada. Fica claro que Tâmara precisa tomar uma decisão importante, e que essa escolha vai ecoar não só na vida dela, mas em todas as suas outras existências.
No geral, Voa Comigo? é um daqueles livros que ficam martelando na sua cabeça dias depois da última página. Mistura drama psicológico, metafísica e um romance sombrio de um jeito que poucas obras conseguem. Se você curte histórias que te fazem refletir sobre padrões de comportamento, relacionamentos abusivos e o poder das nossas escolhas, essa é leitura obrigatória!