Organizadores: J.D. Salinger
Editora: Todavia
Páginas: 176
Ano de publicação: 2019
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Salinger continua a explorar os meandros da família Glass,que os leitores conheceram em Nove histórias. Em “Franny”, a mais jovem dos Glass se encontra com o namorado, mas o que prometia ser um fim de semana aprazível acaba se tornando uma descida ao mal-estar espiritual que a domina. Em “Zooey”, encontramos Franny em meio a um colapso nervoso, e cabe a seu irmão tentar ajudá-la.
Fala galera do Porão Literário, tudo certo? Hoje minha resenha é do livro Franny & Zooey lançado pela editora Todavia. O livro é de autoria de J.D. Salinger e a resenha foi escrita por Leonardo Santos.
Confesso que demorei um pouco para entender o que me tocou tanto em Franny & Zooey, esse pequeno volume que reúne dois textos independentes, mas profundamente conectados. Salinger, mais uma vez, se debruça sobre a família Glass — aquela mesma que conhecemos em Nove histórias — e oferece um retrato sensível, quase claustrofóbico, da busca espiritual em meio ao caos do mundo moderno.
A primeira parte, “Franny”, se passa durante um fim de semana que tinha tudo para ser apenas mais um encontro romântico entre a jovem Franny e seu namorado. Mas o que vemos é um desconforto crescente, silencioso, que vai tomando espaço até que explode. Franny está em crise, não com o namorado em si, mas com tudo ao seu redor: a superficialidade das conversas, a vaidade acadêmica, a banalidade da vida. Ela está exausta — e essa exaustão, tão íntima e difusa, é quase palpável.
Já em “Zooey”, o foco muda para o irmão mais velho de Franny. A atmosfera, agora dentro da casa da família Glass, se torna ainda mais densa. Zooey tenta entender e, de certa forma, “curar” a irmã. O diálogo entre os dois é o coração do livro: longo, cheio de pausas, interrupções, lembranças da infância e questionamentos espirituais. Salinger constrói um cenário onde tudo é sobre o que não é dito.
É curioso como Franny & Zooey se afasta dos grandes dramas para mergulhar no que há de menor — e por isso mesmo mais importante — nas relações humanas. O texto é carregado de referências religiosas e filosóficas, mas não espere nenhuma resposta pronta. A beleza do livro está exatamente aí: nas contradições, na busca, no desconforto.
Franny quer desaparecer, mas também ser compreendida. Zooey quer ajudar, mas carrega suas próprias feridas. E Salinger parece sussurrar, o tempo todo, que é nessa tensão que habitamos.
Talvez o que me pegou em cheio nesse livro tenha sido a honestidade brutal com que ele trata o sofrimento invisível. Aquele que não é gritado, que não aparece em diagnósticos, mas que molda tudo ao redor. Franny & Zooey é um mergulho sem alarde — e justamente por isso, tão devastador.