2 de julho de 2025

RESENHA: O BUROCRATA

 


Organizadores: Lucas Pergon  
Editora: Independente
Páginas: 106
Ano de publicação: 2025
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Em seu romance de estreia, Lucas Pergon entrega ao leitor uma narrativa madura, irônica e profundamente humana. O Burocrata é mais do que uma crítica à máquina pública — é um mergulho existencial nas engrenagens silenciosas que moem ideais, gestos e até mesmo nomes. Com precisão narrativa e linguagem elegante, o autor constrói uma trama que se passa em qualquer lugar e tempo, pois lida com aquilo que é universal: a luta do indivíduo para manter sua identidade em meio à coletivização institucional.É uma obra surpreendentemente sólida e sofisticada. Em vez de recorrer a efeitos fáceis, o autor constrói sua crítica à estrutura institucional a partir da observação fina, do humor contido e da dor interiorizada de seus personagens. A história, ambientada em um universo de repartições, regulamentos e chefias opacas, transforma o que poderia ser burocrático também na forma em material literário potente e lírico.O Burocrata não apenas afirma Lucas Pergon como uma nova voz na literatura contemporânea, mas insere sua obra entre aquelas que conseguem, com delicadeza e firmeza, dizer o indizível — ou, ao menos, sussurrá-lo entre carimbos, memorandos e corredores mal iluminados.

 

Fala galera do Porão Literário, tudo certo? Hoje minha resenha é do livro O Burocrata, lançado de forma independente. O livro é de autoria de  Lucas Pergon e a resenha foi escrita por Leonardo Santos.  


Arthur acreditava que poderia fazer a diferença.

Era isso que o movia quando passou a trabalhar no prédio da Superintendência de Inteligência Regional. No começo, ainda novo no cargo de auditor, carregava nos ombros a vontade de lutar por uma sociedade mais justa e humana. Um idealista em meio a papéis, prazos e pareceres. 
 
Mas a promoção veio rápido. Rápido até demais.

Logo ele se vê à frente de um grupo de auditores, tentando não apenas sobreviver à rotina sufocante, mas também manter um mínimo de coerência entre o que acredita e o que precisa fazer. E é aí que o peso começa a aparecer: como liderar, como resistir, como não se apagar num sistema que parece feito para isso?


O Burocrata, de Lucas Pergon, é um mergulho nesse universo! Não o das tramas espetaculares, mas o das engrenagens silenciosas que moem, sem fazer alarde, tudo que não se adapta. O livro é ambientado em repartições públicas, mas não se engane: o foco aqui não é o serviço público em si, e sim o ser humano dentro dele.

Arthur é o fio condutor dessa história, mas ele não caminha sozinho. Personagens como Virgílio — ou apenas V, como é conhecido — surgem como vozes importantes dentro da narrativa. É através das interações entre esses personagens que o autor costura seus temas centrais: identidade, resistência e o esvaziamento emocional provocado por uma rotina mecânica.

O que mais me pegou nesse livro foi a forma como Lucas escreve o ordinário com poesia. Há um lirismo seco, irônico, como se cada frase tivesse passado por uma triagem interna antes de ser liberada. Nada é excessivo, mas mesmo assim algumas situações acabam por nos tirar risadas preocupadas pela acidez atribuída ao enredo. 


Tem algo de existencial aqui. O Burocrata faz eco com aquele tipo de angústia que é difícil de nomear, mas fácil de reconhecer. A sensação de ser só mais um número, de se perder dentro de siglas, metas e e-mails que parecem nunca acabar. Mas, mesmo nesse cenário, o livro encontra espaço para o afeto, para a ironia e até para pequenos lampejos de esperança.

Essa é uma leitura que talvez não agrade quem busca ação, mas que fala diretamente com quem já se sentiu soterrado por estruturas maiores do que si. Quem já precisou sufocar uma indignação para não desagradar, ou engavetar um ideal para poder seguir no cargo.

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Leonardo Santos



Olá leitories! Meu nome é Leonardo Santos, tenho 28 anos, sou de São Paulo mas atualmente estou em Guarulhos cursando Letras! Minha paixão pela leitura começou desde muito cedo, e é um prazer compartilhar minhas leituras e experiência com vocês!

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