Em seu romance de estreia, Lucas Pergon entrega ao leitor uma narrativa madura, irônica e profundamente humana. O Burocrata é mais do que uma crítica à máquina pública — é um mergulho existencial nas engrenagens silenciosas que moem ideais, gestos e até mesmo nomes. Com precisão narrativa e linguagem elegante, o autor constrói uma trama que se passa em qualquer lugar e tempo, pois lida com aquilo que é universal: a luta do indivíduo para manter sua identidade em meio à coletivização institucional.É uma obra surpreendentemente sólida e sofisticada. Em vez de recorrer a efeitos fáceis, o autor constrói sua crítica à estrutura institucional a partir da observação fina, do humor contido e da dor interiorizada de seus personagens. A história, ambientada em um universo de repartições, regulamentos e chefias opacas, transforma o que poderia ser burocrático também na forma em material literário potente e lírico.O Burocrata não apenas afirma Lucas Pergon como uma nova voz na literatura contemporânea, mas insere sua obra entre aquelas que conseguem, com delicadeza e firmeza, dizer o indizível — ou, ao menos, sussurrá-lo entre carimbos, memorandos e corredores mal iluminados.