Organizadores: Felipe Cotias
Editora: OperaCompre através deste link.
No Rio de Janeiro do início dos anos 2000, a vida discreta de Rafael é abalada pelo envolvimento com Eva, uma colega de faculdade que insinua rastros de violências legitimadas por uma enigmática lógica existencial. Movido pela atração e pela suspeita, Rafael é atirado a uma espiral de dúvidas e racionalizações que rompem a linha entre imaginação e realidade, precipitando-o a um assassinato brutal. Narrado com tensão contida e lirismo introspectivo, Sombras Trêmulas conduz o leitor a uma jornada íntima pelas fissuras da subjetividade, onde desejo e linguagem moldam percepções e arrastam o espírito ao colapso.
Fala galera do Porão Literário, tudo certo? Hoje minha resenha é do livro Sombras trêmulas, lançado pela editora Opera. O livro é de autoria de Felipe Cotias e a resenha foi escrita por Leonardo Santos.
A trama acompanha Rafael, estudante de medicina que vive imerso em devaneios, teorias e fantasias que oscilam entre a utopia e o impulso destrutivo. Sua rotina aparentemente banal toma outro rumo no dia em que ele presencia Eva, uma colega de faculdade por quem nutre uma fascinação crescente , cometer um ato irreversível: lançar um carrinho de bebê ao mar.
A partir desse momento, realidade e imaginação se misturam, e a história mergulha em um clima cada vez mais denso, onde atração e repulsa se confundem. E gente... que devaneio viciante e completamente confuso. Por tempo, fiquei em dúvida do que era real ou o que era imaginação do personagem. E afinal, não pode ser os dois ao mesmo tempo?
Felipe Cotias constrói seus personagens sem pressa, nos permitindo acompanhar o fluxo interno de Rafael, pois aqui temos suas reflexões sobre moral, violência, amor e poder; ao mesmo tempo em que insere Eva como um enigma quase hipnótico.
O autor brinca com referências literárias e mitológicas, como a descida de Orfeu ao Hades, para traçar paralelos entre o mito e a obsessão do protagonista, criando uma tensão que raramente se resolve de forma clara. Ao redor deles, personagens como Marcelo e Cristina ajudam a costurar uma rede de relações atravessadas por ciúmes, manipulação e violência velada.
Inclusive, Marcelo e Cristina são essenciais para essa história. Eu amei a forma como eles trazem uma dinâmica que oscila entre cumplicidade e competição. Cristina se incomoda com a maneira como Marcelo manipula as situações a seu favor, mas ao mesmo tempo enxerga nele uma figura magnética. A forma como tudo isso cria entre os dois um pacto silencioso é impressionante.
A narrativa alterna cenas muito visuais, quase cinematográficas, com longos mergulhos no pensamento dos personagens, nos obrigando a entrar em suas contradições. É um romance que trabalha bem o desconforto, seja no suspense silencioso das perseguições de Rafael, seja nos diálogos carregados de segundas intenções entre ele e Eva.
Além da trama central, há um subtexto forte sobre alienação, desejo e a tênue fronteira entre fascínio e perigo. As referências à poesia romântica e aos mitos clássicos foram alguns dos meus pontos preferidos — já que os estudei na faculdade que fiz.
Sombras Trêmulas não é uma leitura um tanto perturbadora, mas muito mais envolvente e, muitas vezes, claustrofóbico! Um retrato intenso da psique humana quando confrontada com seus próprios abismos. Ao fechar o livro, a sensação que fica é a de ter acompanhado de perto um amor doentio, um jogo de manipulação e um suspense psicológico que se recusa a se explicar por completo.
Recomendo para quem gosta de tramas densas, narrativas que exploram obsessões e que não têm medo de mergulhar no lado mais sombrio das relações humanas.





















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