Organizadores: Marcelo Rubens Paiva
Editora: AlfaguaraCompre através deste link.
Escritor, pai depois dos cinquenta anos, cadeirante e considerado inimigo pelo governo vigente: assim Marcelo Rubens Paiva se descreve, neste livro franco e emocional, sequência autobiográfica de Feliz ano velho e Ainda estou aqui — cujo filme, dirigido por Walter Salles e com Fernanda Torres no papel principal, foi vencedor do prêmio de melhor roteiro do Festival de Veneza e candidato ao Oscar de melhor filme.
Fala galera do Porão Literário, tudo certo? Hoje a resenha é do livro O Novo Agora, publicado pela editora Alfaguara e escrito por Marcelo Rubens Paiva. A resenha foi escrita por Leonardo Santos.
Já fazia um tempo que eu não lia algo do Marcelo Rubens Paiva. Conhecia o autor pelos seus trabalhos mais antigos, especialmente Ainda Estou Aqui, mas confesso que não esperava ser arrebatado da forma como fui por O Novo Agora.
A narrativa começa com uma cena que poderia ser corriqueira: o nascimento do primeiro filho. Mas o modo como o autor escolhe descrever esse momento é tudo menos comum. Com uma escrita íntima, cheia de ironias afetuosas e reflexões sobre o corpo, o tempo e a memória, Marcelo transforma um relato de parto em um campo de batalha emocional. E é isso que me pegou logo nas primeiras páginas: o livro é profundamente humano.
E quando eu digo humano, falo daquele tipo de literatura que sangra, que tropeça, que respira fundo pra tentar seguir em frente. Marcelo escreve como quem revive, e isso faz toda a diferença. Ele narra o nascimento do filho ao mesmo tempo em que revisita o próprio nascimento como pai. Há um contraste gritante (e bonito) entre o caos do parto e a calma da escrita. É como se ele estivesse tentando entender tudo aquilo depois que a poeira baixou.
O livro mistura memórias pessoais, política, paternidade, envelhecimento e até o colapso dos antigos espaços de sociabilidade, como os bares e os blocos de rua. Tem crônica, tem confissão, tem até certa melancolia, mas sempre com uma dose saudável de bom humor. E o texto nunca se perde em si mesmo. Pelo contrário, ele vai costurando tudo com uma fluidez que só alguém muito consciente da própria voz narrativa consegue alcançar.
Uma das coisas que mais me chamou atenção é como Marcelo consegue rir das próprias tragédias. A forma como ele narra o momento em que, no meio do trabalho de parto, decide comer uma banana (e leva uma bronca épica por isso)... Essas pequenas passagens mostram o quanto a escrita dele é feita de contradições que funcionam: vulnerabilidade e firmeza, cansaço e encantamento, medo e coragem.
E sim, o livro fala muito de amor. Mas não daquele amor idealizado. Fala de amor como trabalho, como presença, como reinvenção constante. O amor por uma companheira, por um filho, por uma cidade, por uma história que não para de se reescrever. O amor que insiste em continuar mesmo quando tudo ao redor parece ruir.


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