Organizadores: l.s. oliveira
Editora: M.inimalismos Compre através deste link.
“Um herói não é o que idealizamos e, por vezes, pode ser assustador. Assim, olho para meu caminho, traçado como que por acaso para o ódio pelo amor. Apaixonei-me há muitos anos quando era alguém que já não reconheço em mim. Pouco sobrou do que fui, e o que sobrou fez de mim alguém capaz de tudo para oferecer como sacrifício cruento ao meu espírito atormentado os que se tornaram meus inimigos.Meu nome é Ravel, e eu era apenas mais um simples rapaz de mais uma bela cidade do interior deste país, chamada Paraíso. Desde que nasci até meus dezoito anos de idade, quando sofri a violência que contarei adiante, morei com meus pais, numa casa simples, mal servida de infraestutura, mas com luz elétrica, algo já bom nos idos da década de 1980, no distante sítio, do qual muitas estradas de barro deveriam ser cruzadas para percorrer da minha casa ao centro da cidade.Eu era um rapaz considerado feio por muitos, magro, com olhos fundos, uma olheira intensa de quem, desde muito cedo, apresentou problemas para dormir. Da pele facial densa, extremamente seborreica, brotava toda sorte de acne, algumas vermelhas e grandes, como que furúnculos no rosto. O corpo magro e desproporcional ganhava contornos ainda mais desproporcionais nas vestes sociais e velhas que não condiziam com a minha idade."
Fala galera do Porão Literário, tudo certo? Hoje minha resenha é do livro A Noiva de Ravel, lançado pela Editora M.inimalismos. O livro é de autoria de L. S. Oliveira e a resenha foi escrita por Leonardo Santos.
Pra começar, essa história é um suspense psicológico brutal, narrado em primeira pessoa por Ravel, um homem que relembra sua juventude na pacata e rural cidade de Paraíso. Nos anos 80 e 90, Ravel era um rapaz pobre, introspectivo, solitário e considerado "feio", que nutria uma paixão platônica e quase protetora por Beatriz, a garota mais linda e rica da escola.
A dinâmica social de Paraíso é o verdadeiro motor da história. Embora ricos e pobres frequentassem as mesmas escolas estaduais, a segregação era clara. Beatriz, tida como um tesouro local, se envolve com Eduardo Veiga, o clássico playboy rico, arrogante e violento, filho da respeitada Procuradora de Justiça aposentada, D.ª Telma Veiga .
A história vira de cabeça para baixo quando Beatriz, incomodada com a "afronta" do olhar de Ravel, finge interesse para atraí-lo a uma emboscada. O que se segue é um dos eventos mais brutais que já li: Ravel é emboscado, espancado e sofre um abuso por Eduardo e seus três amigos (Fabiano, Felipe e Marcos), enquanto Beatriz assiste a tudo.
O trauma de Ravel é agravado pelo sistema. No tribunal, os agressores são absolvidos; a mãe de Eduardo usa sua influência para culpar a vítima, alegando que a "conduta bastante efeminada" de Ravel induziu os réus a um ato de virilidade. A tragédia culmina na morte do pai de Ravel, causada indiretamente pelo mesmo grupo. Consumido pelo ódio, Ravel deixa Paraíso.
Intenso.. É difícil descrever "A Noiva de Ravel" como uma leitura "prazerosa", pois é um livro doloroso, sufocante e repleto de gatilhos. Mas a precisão cirúrgica com que L. S. Oliveira constrói a psiquê de um homem quebrado é o que faz desta uma história que te prender até o fim.
Eu fiquei fascinado pela forma como o autor não tem medo de mergulhar no lado mais sombrio da natureza humana. A história disseca a hipocrisia social, a impunidade dos ricos e a violência estrutural. O Ravel que retorna a Paraíso quase 20 anos depois não é um herói; ele é um homem atormentado, disposto a tudo para executar seu "sacrifício cruento".
Mas o sentimento que ficou é de querer ver mais. O autor é realmente mastermind ao criar o plano de vingança. Ravel retorna onisciente e instala um complexo sistema de espionagem em toda a cidade, transformando Paraíso em seu tabuleiro pessoal. Ele se torna um banqueiro frio, enriquecido por meios ilícitos (que incluem fraude e assassinato), e usa seu dinheiro para comprar a mesma elite corrupta que um dia o destruiu.
Além de Ravel, conhecemos seus alvos: Marcos, o traficante viciado; Felipe, o filho inútil do prefeito; Fabiano, o primo arrogante; e a própria D.ª Telma. No entanto, os personagens mais complexos são Ezequiel, o jovem que resgatou Ravel e se torna seu fiel braço direito, e Inês, a enfermeira que o amou em seu pior momento e representa a única, e talvez impossível, chance de redenção .
O tom de "thriller de vingança" é muito forte. É um "Conde de Monte Cristo" moderno, mas infinitamente mais sombrio. Vemos Ravel preparar meticulosamente a destruição de cada um que o feriu, numa escalada de violência psicológica e física que nos faz questionar os limites da justiça e da moralidade.





















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