"Afinal, por que escrevo? Essa parece uma daquelas perguntas de vestibular, feitas propositalmente em aberto para gerar questionamentos internos. Escrevo porque me sufoca, me falta o ar, uma mão invisível aperta minha jugular até que eu quase desfaleça. Mas não me calo, pois que convivam com o desconforto da minha simples e mortal existência."
A vida de Luiz Otávio desmorona em um curto espaço de tempo. Aos 45 anos, ele se vê à deriva: perde o pai sem a chance de uma despedida, o casamento chega ao fim e a estabilidade profissional se dissolve, substituída por uma juventude mais barata e ágil. A solidão, antes ignorada, agora se impõe como uma presença inescapável.
Retornando à antiga kitnet, um espaço que carrega as marcas do passado, Ota precisa reconstruir não apenas sua rotina, mas também a si mesmo. Seu relacionamento com Theo, o filho, é frágil, reflexo de uma paternidade ausente e dos erros que se repetem de geração em geração. No entanto, mesmo em meio ao caos, há espaço para renascimentos, ainda que o caminho seja árduo.
“Tenho inteira ciência de que escrevo uma história que ainda não existe. Não de uma maneira reta, palpável, palatável. Na minha cabeça, o bolo é intragável; eu mastigo tudo, até triturar em mil pedaços e mesmo assim, não desce.”
Bom gente, esse livro é sobre recomeços e sobre o peso das relações que moldam quem somos. O livro mergulha nas complexidades dos laços familiares, destacando a difícil, mas necessária, jornada do perdão e da autodescoberta. Aqui, não há heróis impecáveis nem redenções fáceis – apenas pessoas falíveis tentando encontrar um propósito em meio às tempestades da vida.
Fiquei impressionado com a forma como esse relato se desenvolve nas suas noventa páginas, eu li esse livro de uma vez só. A leitura é sim fluída pois ela é impulsionada pela escrita poética do autor, que dá à narrativa um tom reflexivo e emocional.
A obra nos faz revisitar nossas próprias relações, convidando à empatia e ao entendimento do outro. Além disso, traz uma representatividade significativa ao abordar a vivência de uma Pessoa Com Deficiência (PCD) em todas suas alegrias, reflexões e dificuldades.
“Trago na alma o signo de ter experimentado o abandono, o desamparo e o despreparo, para então renascer. Meu terapeuta diria que eu acabei de definir o que era resiliência vivida na pele.”
No fim, o livro nos lembra da importância de valorizar aqueles que nos cercam, além de se configurar como um relato sensível sobre perdas, reconciliação e a busca pelo que realmente importa.