Fala galera do Porão Literário, tudo certo? Hoje minha resenha é do livro Quarentena — Contos Isolados, lançado pela editora Skull. O livro é de autoria de Maurizio Ruzzi e a resenha foi escrita por Leonardo Santos
A pandemia trouxe à tona situações que, para muitos, pareciam inimagináveis – e é justamente nesse terreno de estranheza e reflexão que os 13 contos de Quarentena: Contos Isolados se destacam. O livro une o impacto do real ao imaginário da ficção que aqui se manifestam como crônicas, criando histórias que flertam com o insólito, o perturbador e o profundamente humano.
Esse é o segundo livro que leio de Maurizio! Além de "Espaço Profundo", livro que traz três contos de ficção científica, agora mergulho nessas treze vivências que, em muito, podem ser reconhecidas por nós. Pelo fato de ter mais histórias, elas acabam por ser bem menores do que as do primeiro livro, mas igualmente inquietantes.
Isso porque a potência de "Quarentena — Contos Isolados" está na capacidade do autor de captar, com precisão inquietante, os eventos e emoções que marcaram esse período que todos nós vivemos. São narrativas que refletem a proximidade sufocante da convivência forçada, os medos irracionais – ou não – da contaminação, e até a incredulidade de quem negava a gravidade do momento, tudo isso nós vimos nas conversas com familiares e jornais, mas ver na literatura faz tudo ganhar um novo parâmetro.
Porém, mais do que narrar os eventos, essas crônicas revelam como as pessoas se reinventam, se adaptam e, por vezes, corrompem até mesmo aquilo que parecia ser o limite – seja ele moral, emocional ou prático. Seja do instinto mais simples, como a fome no conto "Bicho", ou então um último desejo muito estranho como o de pedir para o familiar comprar o máximo de caixões possíveis, visto que ele poderá ganhar muito dinheiro com as potenciais mortes tragas pela pandemia, tema da crônica "Floripônia".
Conversas constrangedoras em elevadores parados, discussões em táxis... Maurizio vê tudo isso e atribuí uma nova camada de compreensão a situações tão banais; além de, é claro, aplicar uma boa dose de ironia e sarcasmo, elementos típicos de uma boa crônica.
"Quarentena: Contos Isolados" é uma crônica do extraordinário nascido do ordinário. Um livro que nos lembra que, mesmo em tempos caóticos, a literatura e a vida continuarão a imitar uma à outra – e, nesse ciclo sem fim, encontrar novas formas de nos desafiar e assombrar.