Vamos lá! Primeiramente, esse é meu terceiro contato com a escrita de Maurizio Ruzzi, e acredito que esse tenha sido meu livro preferido dele até então! "Contos do machado" é uma coletânea de contos que gira em torno de um machado medieval, mas não pense que estamos falando de uma mera ferramenta. Esse machado é muito mais do que isso: é uma arma, um símbolo de poder, uma extensão da alma de quem o empunha. E, ao longo das histórias, ele revela os valores, medos e ambições dos personagens que cruzam seu caminho.
Não seria estranho dizer que o machado aqui é um personagem. Ele está presente em cada conto, seja nas mãos de um ferreiro obcecado pela perfeição, seja nas mãos de guerreiros que veem nele uma chance de glória ou destruição. E o mais interessante é como Ruzzi usa o machado para explorar temas profundos, como honra, traição e a dualidade entre vida e morte.
Tudo isso começa quando Rudolph escreve uma carta ao seu irmão enquanto viaja pela europa. Seu propósito é de entender mais sobre seus próprios antepassados. Algumas pistas o leva a casa de um casal de idosos e uma fotografia antiga de um homem com um machado medieval. Essa fotografia o leva a história de seu bisavô e volta muito mais no tempo até a era medieval.
"Martelar o metal era um ótimo remédio para lidar com tudo. Batia, batia e batia [...] Entre as fagulhas, seu sorriso crispava seu rosto, os olhos brilhando como os de um demônio do fogo."
Os contos são ambientados em uma europa medieval imaginária, onde mitos e relatos orais se entrelaçam. A estrutura fragmentada — com histórias passadas de geração em geração — foi um dos pontos que mais me chamou a atenção na obra, isso porque realmente parece que estamos lendo relatos muitos antigos, crônicas de mercenários, guerreiros e reis.
A prosa de Ruzzi é densa e violenta, com descrições que alternam entre a brutalidade das batalhas e a delicadeza de momentos introspectivos.É legal avisar que os próprios personagens são colocados como secundários, a maioria nem tem nome e serve de "objeto" ao próprio machado, que toma o protagonismo.
E não posso deixar de falar das ilustrações belíssimas de Juno Hedel, que são um dos grandes trunfos do livro. Com traços marcantes e cheios de detalhes, elas complementam a narrativa e nos transporta para vilarejos sombrios e campos de batalha.
Enfim, "Contos do Machado" é uma experiência literária intensa, ideal para quem aprecia histórias brutais com camadas simbólicas. Ruzzi acerta ao transformar um objeto cotidiano em epicentro de conflitos humanos! Se você está disposto a encarar suas sombras, a jornada valerá a pena. E, como diria o próprio autor, este livro é um "desafio feito olhando no fundo de teus olhos", onde "todos os golpes serão no coração".