Hoje trago uma leitura que foge um pouco dos temas que costumo resenhar por aqui, mas que acabou sendo muito útil pra mim pelo momento em que eu (e acho que todos nós) estamos vivendo. A era das inteligências artificiais.
Quando vi o título pela primeira vez, confesso que pensei se não seria só mais uma dessas obras que tentam traduzir a IA com termos técnicos e gráficos complexos — do tipo que você lê cinco páginas e sente que precisa de um curso à parte pra continuar. Mas não. Córdova me fisgou justamente pelo contrário: pela clareza, pelo tom acessível e, acima de tudo, pela honestidade com que ele trata esse assunto tão urgente.
Vivemos cercados por algoritmos. A gente acorda com o despertador do celular, pede café pelo app, ouve música no streaming e passa horas em redes sociais que (mesmo sem perceber) moldam nosso humor, opinião e até consumo. É disso que o livro trata. De como a Inteligência Artificial já faz parte do nosso dia a dia sem que a gente faz um tempo sem sequer que a gente note. E, mais importante: de como é perigoso não saber disso.
O autor, que tem uma bagagem acadêmica bem sólida (mestrado em Informática, especialização em Design, e ainda leciona na UFJF), mostra que a IA não é algo que vai chegar no futuro: ela já está aqui, no nosso bolso, na nossa rotina. E ao longo das 280 páginas, ele traça um panorama bem amplo sobre os encantos e os riscos de tudo isso.
A estrutura do livro é dividida de forma bem clara entre os dois polos que o título apresenta: o fascínio e o medo. E eu gostei muito de como ele não demoniza nem idealiza a tecnologia. Ele fala sobre os avanços incríveis que a IA proporciona, claro, desde automações que facilitam a vida até inovações em saúde, educação, segurança. Mas o livro brilha mesmo quando começa a cutucar as feridas.
Uma das partes que mais me marcou foi a análise sobre o viés dos algoritmos. Córdova cita, por exemplo, o caso de um sistema de recrutamento da Amazon que começou a favorecer currículos masculinos e descartar automaticamente os femininos. Assustador, né? Mas não é a IA “malvada”. É o dado enviesado. É o reflexo de um mundo desigual sendo replicado e amplificado por uma máquina. E isso, pra mim, muda totalmente a discussão.
O medo, então, não é que a IA vá se rebelar estilo Exterminador do Futuro, mas que a gente continue ensinando ela com nossos piores traços: preconceito, exclusão, desigualdade. E o livro é muito certeiro nisso. Ao invés de alimentar um pânico sobre o futuro, ele nos convida a olhar com mais crítica pro presente.
Outro ponto forte é como o autor desmonta a ideia do “futuro distópico” que o cinema tanto ama. Em vez de robôs assassinos, ele fala de pessoas desinformadas. De um público que consome tecnologia sem saber minimamente como ela funciona. E de como isso pode ser mais perigoso do que qualquer Skynet.
Córdova fecha com uma proposta que eu achei essencial: reconhecer a IA no nosso cotidiano, entender como ela funciona e aprender a conviver com ela de forma mais consciente. Parece simples, mas é um passo gigante quando pensamos no impacto que isso tem em escala social.