O livro segue a história de Lee, um norte-americano que está em México, um lugar que, para ele, representa a tentativa de fuga de sua vida passada. Lee, no entanto, não consegue escapar de si mesmo. Ele está perdido, envolto em um turbilhão de desejo e frustração, vivendo uma vida que é ao mesmo tempo cheia de promessas e desilusões.
No centro da trama, está a relação dele com o jovem, fascinante e distante Eugène, que provoca uma obsessão em Lee. A busca de Lee por Eugène não é apenas física; é uma busca pelo sentido da vida, por algo que transcenda a banalidade da existência cotidiana.
Burroughs, como sempre, não tem medo de explorar os aspectos mais sombrios da psique humana, e isso é intensificado por sua escrita crua e, por vezes, desconcertante. Ele não poupa dilemas e desconforto que o personagem principal enfrenta. Burroughs trabalha com a ideia de que o desejo e a identidade são complexos e muitas vezes conflitantes, e que essa busca, longe de ser uma jornada de autodescoberta positiva, é algo que pode levar à autodestruição.
O México, nesse contexto, serve como um cenário metafórico para a alienação de Lee. Ele se encontra em um lugar fisicamente distante de tudo o que conhece, mas a verdadeira distância que ele experimenta é psicológica e emocional. Burroughs não faz concessões em mostrar a solidão e a luta interna de Lee, fazendo com que o leitor compartilhe da sensação de desconforto e inadequação do protagonista.
"Queer" é uma obra inquietante. Não é uma história convencional de romance ou aventura. A busca de Lee por Eugène é marcada por obsessão e fracasso, e a construção da relação entre eles é cheia de ambiguidades e tensões. A maneira como Burroughs aborda o desejo homoerótico, longe de ser uma celebração, é um olhar cruel sobre a maneira como a sexualidade pode ser uma prisão, ao invés de um caminho para a liberdade.
Se você já leu algo de Burroughs, sabe que seu estilo de escrita é fragmentado, quase experimental. Ele não segue uma narrativa linear e muitas vezes parece que a história não vai a lugar nenhum, mas isso faz parte da proposta da obra. Burroughs está mais interessado em explorar a mente de Lee do que em apresentar um enredo coeso, e isso é tanto um ponto positivo quanto negativo para quem gosta de tramas mais tradicionais. A escrita dele é crua, às vezes caótica, mas tem uma força inegável.
Se você está atrás de uma leitura que vá além da superfície e questione não apenas a sexualidade, mas também os limites da humanidade e da identidade, "Queer" é uma obra que vale a pena ser explorada.