Organizadores: Milton Hatoum
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 208
Ano de publicação: 2024
Após um longo período de ausência, uma mulher regressa a Manaus, cidade de sua infância. Deseja encontrar Emilie, a extraordinária matriarca de uma família libanesa há muito radicada ali. Encontra a casa desfeita - como desfeitas para sempre estão as casas da infância.Situado entre o Oriente e o Amazonas, este relato é a busca de um mundo perdido, que se reconstrói nas falas alternadas das personagens, longínquos ecos da tradição oral dos narradores orientais.Com o sopro das obras que vieram para ficar, Relato de um certo Oriente apresenta ao público o talento de um escritor, a força de seu texto envolvente e, sobretudo, lírico.
Fala galera do Porão Literário, tudo certo? Hoje minha resenha é do livro Relato de um certo Oriente, lançado pela editora Companhia das Letras. O livro é de autoria de Milton Hatoum e a resenha foi escrita por Giovanna Bertti.
Esse livro trás a história se desenrola através do ponto de vista de um narrador anônimo que, ao revisitar o passado de sua família, se depara com revelações sobre os laços entre seus pais e as dificuldades que o orientaram. O romance é um mosaico de histórias entrelaçadas, em que o Oriente, simbolizado pela figura do pai e da terra natal, e o Ocidente, representado pelo Brasil e pela adaptação à nova cultura, convivem em um equilíbrio frágil, talvez esse tenha sido o elemento que mais me hipnotizou durante a leitura desse breve livro.
Além de que a obra mergulha nas memórias e nos sentimentos que conectam o passado e o presente, os filhos e os pais, o que foi deixado para trás e o que é conquistado na nova terra; esse sentimento percorre toda a narrativa — e é lindo acompanhar como ela nos leva a uma viagem pelas complexidades da memória, identidade e relações familiares. Com sua narrativa fluida e reflexiva, o autor explora não apenas a trajetória pessoal do protagonista, mas também as tensões culturais e sociais que permeiam a história de uma família imigrante libanesa no Brasil, oferecendo uma visão única sobre o processo de integração e os conflitos de pertencimento.
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Hatoum se destaca ao criar uma narrativa onde o espaço não é apenas um cenário, mas um personagem por si só. A cidade de Manaus, com sua mistura de influências e culturas, torna-se o palco perfeito para os dilemas existenciais e as transformações da família protagonista. Milton também joga com a noção de memória, e como o passado se reflete no presente, muitas vezes distorcido ou interpretado de formas diferentes, gerando tensões internas entre os membros da família e também com a sociedade ao redor.
O estilo de Hatoum é denso e poético, mas não deixa de ser acessível. Sua escrita nos convida a uma introspecção constante, enquanto se desenrola uma trama repleta de simbolismos e metáforas que falam sobre as distâncias que o tempo e o espaço criam, mas também sobre os laços que, embora frágeis, resistem às intempéries da vida.