Regresso sem saudade narra a história de Madalena desde a mais tenra idade até hoje. “Criada para obedecer calada”, essa voz ecoa do casebre de sua primeira infância e puberdade até a idade adulta, ilustrando a vida de milhões de seres humanos fadados a morrer na penúria. Debatendo-se entre angústias e aflições, a protagonista procura, a qualquer custo, libertar-se dos grilhões a que se vê predestinada, buscando na linguagem, como processo terapêutico, uma forma de mitigar as dores tão presentes em seu passado e uma possibilidade de vislumbrar e materializar o seu próprio eu tomado de desconforto, para moldá-lo, por fim, em outras paragens distantes de todos os seus males. A narrativa de Madalena esbarra, por um lado, na passagem do tempo histórico, com a vida se transformando; por outro lado, no espaço íntimo dessa mulher. Sua escritura é constituída de momentos de intenso sofrimento, medo e desespero, mas também de muita ternura e luta por uma mudança nas limitações da vida familiar e da desigualdade social brasileira. Sua história é de redenção, pois termina perdoando os responsáveis por tantos sofrimentos: sua mãe e seu pai. Acima de tudo, a autora, consegue se libertar da violência e de traumas e, com força e persistência, construir uma nova história para ela e seus filhos.