23 de junho de 2025

RESENHA: REGRESSO SEM SAUDADE

 


Organizadores: Marilia Andreä 
Editora: ‎ Patriani
Páginas: 160
Ano de publicação: 2025
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Regresso sem saudade narra a história de Madalena desde a mais tenra idade até hoje. “Criada para obedecer calada”, essa voz ecoa do casebre de sua primeira infância e puberdade até a idade adulta, ilustrando a vida de milhões de seres humanos fadados a morrer na penúria. Debatendo-se entre angústias e aflições, a protagonista procura, a qualquer custo, libertar-se dos grilhões a que se vê predestinada, buscando na linguagem, como processo terapêutico, uma forma de mitigar as dores tão presentes em seu passado e uma possibilidade de vislumbrar e materializar o seu próprio eu tomado de desconforto, para moldá-lo, por fim, em outras paragens distantes de todos os seus males. A narrativa de Madalena esbarra, por um lado, na passagem do tempo histórico, com a vida se transformando; por outro lado, no espaço íntimo dessa mulher. Sua escritura é constituída de momentos de intenso sofrimento, medo e desespero, mas também de muita ternura e luta por uma mudança nas limitações da vida familiar e da desigualdade social brasileira. Sua história é de redenção, pois termina perdoando os responsáveis por tantos sofrimentos: sua mãe e seu pai. Acima de tudo, a autora, consegue se libertar da violência e de traumas e, com força e persistência, construir uma nova história para ela e seus filhos.

Fala galera do Porão Literário, tudo certo? Hoje minha resenha é do livro Regresso sem saudade, lançado pela editora Patriani. O livro é de autoria de Marilia Andreä e a resenha foi escrita por Leonardo Santos. 


O que acontece quando a linguagem se torna o único espaço possível de cura? Em Regresso sem saudade, a história de Madalena é contada com a franqueza de quem precisou encontrar palavras para nomear dores que, por muito tempo, precisaram ser engolidas.

Marilia, que transforma sua própria trajetória em matéria literária, nos apresenta uma infância marcada por violência, escassez e silêncios impostos na pequena cidade de Jaguariaíva, onde cresceu. Criada para obedecer calada, como ela mesma declara, Madalena caminha por entre escombros afetivos e a violência imposta por Tereza, sua própria mãe, uma mulher com seus próprios fantasmas; e seu pai, um homem que carrega consigo a violência em seus diversos aspectos. 

Bom, vamos lá: A força do livro está justamente na sua recusa em romantizar o sofrimento; até porque ele não quer quer ser bonito ou sensível, quer ser verdadeiro. Por vezes, senti um aperto no coração ao ler o relato de uma Madalena jovem. A linguagem que a protagonista abraça não é apenas uma forma de narrar, mas de se reconstruir e tentar encontrar sua voz em um ambiente que tudo tentou silencia-la.


Em muitos trechos, sentimos que ela escreve com as mãos trêmulas de quem revive o trauma, mas também com os olhos firmes de quem quer, finalmente, entendê-lo. Há momentos em que a narrativa parece tropeçar nas próprias feridas, e isso só torna tudo mais palpável.

Por trás das dores que atravessam décadas, existe também a insistência da ternura — e, por vezes, da esperança. Durante toda a narrativa, Madalena reinventa a si mesma. E isso se dá não por algum otimismo ingênuo, mas por uma decisão consciente de não repetir os ciclos que a marcaram em sua infância e adolescência. Sua escolha de perdoar pai e mãe, figuras centrais em seu calvário, acaba funcionando de maneira catártica e até mesmo libertadora.  


Ao final, a impressão que fica é a de que “Regresso sem saudade” não é um convite ao voyeurismo da miséria, e sim uma convocação à escuta. Madalena nos conta sua história para que outras vozes como a dela não precisem mais calar. E talvez, por isso mesmo, seja um livro que precisa ler lido. 

 



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Leonardo Santos



Olá leitories! Meu nome é Leonardo Santos, tenho 28 anos, sou de São Paulo mas atualmente estou em Guarulhos cursando Letras! Minha paixão pela leitura começou desde muito cedo, e é um prazer compartilhar minhas leituras e experiência com vocês!

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