Autor(a): Ruth Guimarães
Editora: Faro Editorial
Páginas: 128
Ano de publicação: 2020
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Em muitos lugares brasileiros, ainda persiste o costume de contar histórias... Em geral, em torno de uma fogueira. É só ficar de mão no queixo, sentado em cima das toras, escutando. O círculo das caras atentas arde ao calor das chamas. Todos se voltam para o narrador, num tropismo original. Não é que o tempo esteja sobrando, não é isso. Em verdade, não existe mais o tempo. Acabou-se o seu império sobre os homens. Não se cuida nem da hora, nem do correr dos instantes. O tempo é o fluir da história. Tempo e espaço se contam na vida dos príncipes e das princesas e do seu povo encantado. Assim, a história vem lenta. Assim, vem comprida. Com repetidos pormenores, cumulativa, misteriosa e sutil, dentro do sutil da noite misteriosa. Transportamo-nos para um outro mundo habitado por duendes e fantasmas, por espíritos bons, pelos bichos que falam. Coisa linda de se ouvir e de se viver. A empatia é tanta, que estamos tão do lado de lá, quanto Alice no País dos Espelhos. Dá pena haver crianças que nunca ouviram casos narrados assim. Estas histórias são, pois, nossas, brasileiras e africanas, genuínas e espontâneas, inventadas pelo povo. Correm por aí (ainda, mas não por muito tempo). Cumpriram e cumprem a contento a alta função principal das histórias: a de entreter. E, através do entretenimento, realizam, certamente, esta coisa extraordinária: predispõem-nos ao amor do Bem, do Belo e do que é Nosso. Mais não lhes poderemos pedir.
Fala galera do Porão Literário, tudo certo? Hoje minha resenha é do livro Contos Negros, lançado pela Faro Editorial. O livro é de autoria de Ruth Guimarães.
O trabalho de Ruth Guimarães nessa coletânea é nada menos do que espetacular. Trazendo para as páginas muitas das histórias de tradição oral, a autora consegue registrar uma parte da rica cultura preta.
Guimarães deixa claro que seus estudos se basearam em algumas regiões do nosso país, principalmente naqueles que tem mais influência negra do país, entre eles a Bahia, o sudeste de São Paulo, Sul de Minas e Baixada Fluminense. Nesses locais o folclore negro era extremamente rico e as histórias circulavam pela sociedade aos montes.
Um fato extremamente importante que a própria autora cita no prefácio são as influências que tais contos tiveram baseados em outras culturas, pois a África também teve diversas influências da literatura europeia, portanto figuras vistas nos clássicos gregos e romanos (tais como gigantes, ninfas e etc) estão presentes nessas obras em um novo contexto.
A organização do livro é feita em quatro partes, e em cada uma delas temos uma pincelada em uma faceta desses contos com alguns exemplos que ilustram bem o tópico em si, como por exemplo na segunda parte, intitulada Cosmogonia Afro-brasileira, temos alguns contos mitológicos de origem das coisas.
Conhecer mais sobre a literatura que moldou a base da nossa identidade nacional foi uma experiência incrível, os contos são breves e fáceis de serem lidos! A edição está muito bem trabalhada e com um aspecto visual de cores INCRÍVEL! Já estou ansioso para ter minha coleção da Ruth Guimarães aqui e ir conhecendo cada vez mais o mundo que essa mulher traz consigo.