VOU SUMIR QUANDO A VELA SE APAGAR
Autor(a): Diogo Bercito
Editora: Intrínseca
Páginas: 216
Ano de publicação: 2022
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Yacub passa os dias na companhia de Butrus no vilarejo da Síria onde vivem. Os dois são inseparáveis e se deixam encostar casualmente enquanto colhem folhas de uva ou fumam no gramado, mas uma agonia crescente toma conta de Yacub quando essa proximidade é ameaçada. Butrus recebera um convite do tio para emigrar para o Brasil e aproveitar as muitas oportunidades de um futuro próspero no país. A perspectiva do distanciamento não é forte o suficiente para que os dois verbalizem seus sentimentos, mas permite que finalmente se toquem. O ato consumado, no entanto, é seguido de uma tragédia. O que para os médicos é cólera, para Yacub é a ação do lendário jinni que habita o poço de uma casa abandonada, que estava aberto quando os jovens cederam aos seus desejos. Esse é o ponto de virada da narrativa, que passa então a ter como cenário a vibrante São Paulo do início da década de 1930, uma cidade em transformação, ponto de atração de pessoas de diferentes partes do mundo. Em um ambiente marcado pela vontade de se estabelecer e pela infinidade de possíveis futuros, o passado cisma em se fazer presente para o imigrante, que começa a ter sonhos cada vez mais vívidos tendo o jinni como figura persecutória.
Fala galera do Porão Literário, tudo certo? Hoje minha resenha é do livro Vou sumir quando a vela se apagar lançado pela Intrínseca. O livro é de autoria de Diogo Bercito e a resenha foi escrita por Leonardo Santos.
Mas mesmo com as novas funções, um tem a ajuda do outro, e o relacionamento dos dois passa a se tornar ainda mais complexo com o descobrimento de suas sexualidades. Todavia, o que ameaça o destino dos amigos é a súbita ideia de Butrus de se mudar daquele local, tomando como destino o Brasil. A convite de um parente, Butrus se anima com a ideia de enriquecer em outro continente, visto que a vila da qual mora está cada vez mais vazia e decadente. A notícia, no entanto, causa enorme choque em Yacub, e os contornos desse evento irá marcar para sempre a vida de ambos.
Sabe aquela leitura que você já começa sabendo que irá se emocionar MUITO durante todo o percurso dela? Pois bem, eu já tinha ciência disso desde os primeiros capítulos, e a escrita poética e melancólica de Diogo Bercito me envolveu de uma forma muito intensa - e, claro, emocionante.
Primeiro de tudo, o fator imersivo do livro foi o que mais me surpreendeu. O autor tem uma vasta experiência nos estudos da cultura árabe e aplica isso em seu livro de uma forma sutil, mas bem poderosa. Em alguns momentos da primeira parte (que se passa nesse vilarejo da Síria), me senti junto a Yacub e Butrus, isso por conta da descrição rica tanto do ambiente quanto dos costumes do povo que ali mora. A segunda parte do livro se passa no Brasil da década de 1930, e explora bem a migração e adaptação em um Brasil cheio de possibilidades.
Tirando todo esse parâmetro histórico, os personagens desse livro são maravilhosos em todas suas complexidades, dou destaque aqui pro Yacub, que carrega consigo uma melancolia e uma culpa que é de cortar o coração de todos os leitores. Além disso, conhecemos ótimos personagens secundários como o Jurj Raduan e tantos outros.
O final é impactante e traz todo um sentido fantástico a jornada de Yacub, a construção desse livro é incrível e o que mais ecoa nas páginas desse romance é toda a poesia que se funde ao texto em prosa. Realmente é uma leitura de merece ser feita e sentida.